É para ti que escrevo esta noite…
Talvez nunca venhas a saber…
É do teu cheiro… do teu sabor a cada manhã que me alimento,
ainda que não conheça as suas cores,
não tenha traçado todas as parábolas possíveis desta distância infiel;
Não li nunca o som das tuas palavras ou medi a distância dos passos com que te aproximas;
Apenas sei, e tu também sentirás…
Uma espécie de qualquer coisa que parece faltar…
Quando voltas e revoltas de noite e as tuas mãos agarram os lençóis numa forma de sentir desesperada que mais ninguém conhece a não ser tu e eu…
É aí que estamos os dois,
espécie de limbo entre bem e mal, deus e diabo, ódio e amor…
Desconheço a tua forma mas vejo-te a cada segundo como se dentro de mim estivesses… nunca houvesses saído…
E sei que sentes o mesmo…
a crescer-te no peito…
sem poderes controlar…
mais forte do que quiseram que acreditássemos…
ou pensaram podermos…
Somos nós esta incerteza…
insatisfação…
uma espera desordenada aparentemente inútil…
mas a única certeza a que nos agarramos quando as paredes se alargam a ponto de sufocar…
É sobre ti que escrevo esta noite e sei que tu também…
Não o precisaremos de ler…
está-nos vestido…
por vezes colorido a cinzento e negro…
magia a que chamo espera…
certeza de assim ter de ser…
A minha e a tua vida…
MiguelVeiga