Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo.
A Morte é um poderoso vento,
E é um suspiro tão tímido, a Arte...
É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária.
Choro de pomba. E a Morte é uma águia
cujo grito ninguém descreve.
Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados
para os meus lábios inexatos,
- atento a um canto mais profundo.
E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lágrima de sua face.
E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde, -
- E sofro sem saber de que Arte
se ocupam as pessoas mortas.
Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga,
Talvez dure mais do que a vida,
Mas à Morte não diz mais nada.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles
(✩ 07/11/1901 — † 09/11/1964)
Autores Clássicos no Luso-Poemas