por essas ruas que seguem as vidas boémias na noite de hoje,
mais fria que nunca porque é hoje e não foi nunca mais,
seguem também recordações das vezes que por lá passei
na noite mais quente no dia mais distante do passado
que me lembro muito vagamente.
as garrafas partidas, os vidros partidos
sobre o chão e encostados às paredes
como quem sente o silêncio equanto espera
- o pé direito e as costas contra o muro -
a chegada da outra vida no meio da confusão de outras vidas.
esperava por ti em silêncio naquele muro
e tentava não mexer muito os olhos
para não conhecer vidas desconhecidas,
só esperava pela presença da tua vida
e seguiamos o nosso caminho lado a lado
sempre em curvas para não tocar em vidas desconhecidas.
dói-me a alma ao pensar veemente que somos tantos,
fico confuso por saber que no meio da multidão
desafiadora onde tento respirar despercebidamente,
apenas ansiava a tua chegada, só a tua chegada
e não pensava sequer no porquê de todos
sermos iguais mas, porém, somente esperava por ti.
caminhei contigo lado a lado como se aqueles passos
fossem a última coisa feita antes de dormir;
de todas as palavras por mim ditas,
da naturalidade presente em cada uma delas,
brotava o charme promíscuo da sinceridade:
só disse quão grande era a vontade de te abraçar.
eram as ruas que se mexiam.
para mim nada mais se mexia para além das ruas,
sentia-me parado e imóvel e, sentia também
que era o mundo a andar por nós.
nessa altura, posso dizê-lo:
eu era o centro da felicidade e não me mexia,
era o mundo a mexer-se à nossa volta.
Hugo Sousa