a casa vestia-se de roupas com cores estridentes. nas pernas usava umas calças repletas de fotografias carregadas de paisagens e pessoas de passagem. sobre o tronco, panos indefinidos pregados na parede assombrados por cada sonho e na cabeça, um telhado já velho, um chapéu calejado pelo trabalho do tempo.
enquanto ainda não é noite, vou aproveitar cada película do dia para não ser eu, descansar e ganhar forças: para não ser eu. vivo noites mais longas que os dias, morro mais na claridade e no movimento. a solidão e todo um cenário escuro são os ingredientes certos para me cozinhar, para ferver e explodir fechado na casa como uma panela.
o futuro desenha incapacidade na pele, aprisiona e tortura-me a alma com o medo. o medo sempre presente como um deus. o medo. o silêncio do eu para mim.
aquilo que vos falo
é o disfarce do silêncio,
a defesa para que nunca acabe,
a mentira do «está tudo bem».
o silêncio interior
a defender-se com uma capa
colorida de socialização.
Hugo Sousa