Quis olhar os fluidos das neblinas
onde as gaivotas sem asas mergulhavam
em queda dos céus povoados de corvos negros.
E sonhar com um peito maior de emoções onde
o meu sonho adormecido em extermínio
e roubo, num tempo gasto, acordasse frondoso
pintado a verde, em prados numerosos,
desenhado a escopo na solicitude elementar
de uma condensada vaga inútil de mar.
Quis contemplar o horizonte, mais longe e mais vasto,
em cada olhar de abraço, em cada mão de dedos,
com que me acenavas no estibordo de uma barca
na intempestividade de balas lançadas de canhões.
Tapei os ouvidos ao galope de cascos estridentes
a curvarem na estopa do vento, as águas profundas
dos baixios, dos fundões, de narinas abertas de ávidas.
Não ouvi a voz do mar que me falava aos ouvidos
de barcos encalhados na noite gelada dos sentidos.
Quis-te dar o meu corpo inteiro embebido em pranto,
para que o amasses e me devolvesses num beijo
o respeito por mim. Neste ensejo, despi-me enfim,
vestindo penas de um rosário de damasco roxo.
Por te amar, incendiei o Sol na bruma de um luar,
desenhei o teu rosto no meu campo em ressoantes
naves de sal e sedes líquidas no colo dos meus olhos,
e esperei deitada na praia em tábuas gastas de sobrados.
Nunca vieste. Nunca aqui estiveste. Não está em lado algum.
Quis sonhar que existias. Construí-te, metáfora a metáfora,
linha a linha, sobre as teclas pretas de um teclado.
Na praia onde esperei por ti, adormeci.
As águas subiram e afogada, afogada em mim, morri!
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