Ao som do piano ele trabalhava dedicado, debruçado sobre a mesa. Suas mãos criavam formas que, aos poucos, iam montando imagens. Enquanto isso, os dedos dela moviam-se de maneira tão delicada que pareciam beija-flores em torno do objeto de desejo.
Ambos eram cúmplices e amantes. Encantava-a tocar para o homem ao qual dizia sempre ser ele sua única inspiração.
O tempo passava lentamente e o som da música inundava toda a casa, ecoando suave como um carinho. Prestes a finalizar seu trabalho, ele para a fim de observa-la, apenas para admirar sua beleza. Adorava seu sorriso, seu olhar, seus trejeitos, sua voz, tudo nela só fazia com que ele a amasse cada dia mais.
A recíproca era verdadeira, pois ele se tornara sua única razão de viver, e a idéia de satisfaze-lo a deliciava.
Duas taças descansam sobre a mesa.
Levantando-se, ele caminha até ela, disposto a mostrar o quanto estå agradecido pela audição daquela noite. As mãos repousam em um par de ombros nus, enquanto que um arrepio a percorre (era sempre assim quando ele a tocava...sempre...).
Alguns segundos apenas são necessårios para que gemidos, sussurros e suspiros ecoem livres. O ar permanecia leve como pluma. Enfim, a dor se vai e com ela, tudo o que lhes era mortal.
À frente, ficou a eternidade.
Teriam todo o tempo do mundo para celebrar o amor, para criar e compor.
Cláudia Banegas