Tenho nove minutos para fazer tudo o que me falta. E ainda me falta tudo. Olho para trás e vejo que quase nada fiz. Ou melhor, que tudo o quanto fiz foi tão pouco para o que poderia, e deveria, ter feito, que agora, que restam nove minutos, tentarei redimir-me, um pouquinho, de tudo o que ignorei quando pensava que teria todo o tempo do mundo para, a belo prazer, fazer as coisas que mais gostaria de fazer. Puro egoísmo.
Quero redimir-me. Quero mas não consigo. Quero que as palavras possam correr pelos corações, que possam saciar as sedes dos que precisam de água e que possam alimentar as barrigas esfomeadas que, por este mundo, se escondem ou que aparecem no nítido pedido de ajuda. Que as palavras, tudo o que ainda tenho, possam trazer a paz.
9 Minutos. Que não pararam, que fugiram de mim como na vida tudo fugiu e em que nada mudou. Lamento que as mentes, como a minha, só acordem para a vida quando já é tarde demais, quando já nada podem fazer e depois, em parcos minutos, querem fazer tudo o que, numa vida inteira, ignoraram. Lamento e penitencio-me por ser igual a todos, por olhar para o outro lado, para não sentir a dor dos que sofrem ao meu lado. Lamento profundamente embora de nada adiante. E agora, que os meus minutos findam, espera-me a justiça do caminho que escolhi. E não foi por falta de avisos, de conselhos e de vontades que o escolhi. Foi porque só pensei em mim e no momento que vivia quando escolhi cada passo, quando tomei cada decisão e nada mais.
E nos meus últimos segundos, se escolher pudesse, gostaria de usar as seguintes palavras, sabendo de que, com elas, me afasto:
Perdoem. Amem. Uni-vos. Libertem-se. Olhem em redor.
Esgotou-se-me o tempo e nada fiz.