Poemas : 

Dura Faina

 
A chuva cai insistente e impiedosa,
Fustiga a caravela que dança na vaga,
A chusma desnorteada prega aos céus...
Sufocam-se as vozes que clamam compaixão,
Perversos deuses que permitem a ilusão
Dos homens que labutam e se tornam réus
Julgados sem culpa no mar que os apaga
Mãos pintadas de sangue em tons de rosa.

Família amargurada que perde seu pai,
Que a fome decepa por culpa de ninguém...
Culpa solteira que é de tantos
Culpa envergonhada que traça corações.
Olha-se ao longe o brilho dos arpões
Em terra, rostos gastos pelos diários prantos,
No bolso contam-se os trocos, de vintém em vintém,
Espera-se o fim da faina quando a Lua cai.

O sal queima-lhes as rugas salientes,
As suas roupas fétidas não escondem o trabalho.
As gaivotas... essas sim voam divertidas,
Avisam os homens para quando a tempestade
São mensageiras da desgraça e da verdade,
Conhecem as marés, os ventos e estas parcas vidas.
Praias desertas cobertas de cascalho,
Viúvas chorosas e impacientes.

Semblantes carregados de triste olhar,
A velhice passada na mesa da taberna
A lembrar os mares revoltos que davam luta,
As redes cheias do melhor peixe do mercado,
Andar lento e trôpego de pescador revoltado.
A revolta desta vida filha de puta,
Que dorme ao relento à porta da caserna
Ao frio, ao passado... ao mar.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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