Um barco imenso atravessa o oceano
e eu navego com ele
Navego para longe deste horizonte
que alcanço
com a luz a fugir de mim ao fim de um dia
de cansaços
Um barco imenso atravessa o oceano
e eu navego com ele
Navego para longe deste horizonte
que alcanço
com o olhar que se persegue a si mesmo
até se me fecharem as pálpebras pesadas
nos teus braços
Um barco imenso atravessa o oceano
e eu navego com ele
Navego para longe deste horizonte
que alcanço
com o pensamento apenas e voo distraído
no pairar das gaivotas a riscar o azul
sobre o mar esvaído de pecados
Um barco imenso atravessa o oceano
e eu navego com ele
Navego para longe deste horizonte
que alcanço
sem eclipses de misérias e poderes
sem palavras labirínticas e promessas
por cumprir
sem cegueiras invejosas e travessias
do deserto complicadas
Um barco imenso atravessa o oceano
e eu navego com ele
Navego para longe deste horizonte
que alcanço
sem cidades sem luzes sem gritos
sem corpos
que se agridem desvairados
Um barco imenso atravessa o oceano
e eu navego com ele
Navego para longe deste horizonte
que alcanço
com o reflexo dos meus olhos
tão cansados
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do projecto "memórias dos sentidos" do autor
poema dedicado à poetisa Amália Lopes