Sou talvez ou não um paranóico. falo assim porque custa-me afirmar que o seja. respiro fundo, concentro-me num bilião de coisas ao mesmo tempo, a marta que me liga a todas as horas a perguntar onde é que eu ando, o peixe do meu aquário que me dá os bons dias pela manhã e ninguém acredita.
pronto, confesso: eu sou um paranóico. mas não desses que andam por aí todos descabelados, com o indicador numa constante dentro do nariz. não! sou um paranóico sofisticado, ultra-moderno. escrevo livros, sabia? mas não tenho contrato nenhum com editoras. acho-as muito esotéricas. até hoje já dei uma data de entrevistas, jornais locais, é certo, pus-me em poses, acenei para objectivas, autografei em papel timbrado, mas tive mau um começo.
dantes era um tipo revoltado, semi-possessivo, adepto de ansiolíticos para viajar sem sair do sítio. hoje sim, agradeço às pessoas que me negaram emprego, fechando-me as portas na cara em vez de: vai-te lavar. mas, sem elas (as benditas pessoas) eu não poderia chegar aqui, a esta secretária, roída nas pontas que eu digo a todos que perguntam quem roeu, respondendo: defeito de fabrico, defeito de fabrico!
sei a forma exacta de conquistar uma mulher, mas por razões óbvias não posso revelar essa fórmula tão procurada. esqueça esta parte. faça de conta que eu só vim ao mundo para aplaudir.
Sou paranóico desde mil novecentos e noventa e sete, logo após ter entrado e saído de uma igreja angélica, não sei se isto teve algo a ver com o facto de ter entrado e saído num passo de fox-trot, mas penso e creio que não. deus não interfere nestes capítulos longos, nem seria tão sacaninha assim.
na época fazia investigação de ostras num mar aqui ao perto. era um motivo para eu apanhar uns banhos de sol. a minha pele é branca e muito podia falar sobre ela. prefiro ficar calado. tenho inimigos públicos.
quando eu era normal as pessoas riam-se de mim, atiravam-me pedras metafísicas, diziam em tom cavernoso: olha vai ali um tipo normal! e mostravam os dentes e as gengivas como sinal de querer afastamento.
graças à bebida hoje sou um paranóico encartado, desconto um xis do meu salário para uma congregação nacional de paranóicos. temos de tudo, desde paranóicos acrobatas, ciclistas, engenheiros nocturnos até mesmo paranóicos que nos advogam.
anualmente juntamo-nos todos a uma mesa para discutir certos poetas e pintores que cairam na realidade, coitados, que se casaram e têm filhos, inclusive, pagam impostos, rendas avultadas, frequentam hipermercados, vão à bola ao domingo, imitam kamassutras, e é de nossa condição estatutária ajudar esses beneficientes a enlouqueceram novamente e se sintam integrados e autónomos afim de prestarem uma literatura mais melhor boa.
se você é um dos interessados em se tornar paranóico contacte os nossos serviços pela linha azul 123 oliveira 4 ou em: www.paranóicosdaluz.com.
não hesite em ligar e faça-se membro. lembro que este serviço é grátis e em muito lhe poderá ser útil a que você tenha uma deliquência bem vincada, para que desta forma não caia nas malhas da realidade, esse flagelo enorme onde o número de vítimas é cada vez mais assustador.
não caia na real, junte-se a nós, unidos lutaremos por uma vida deliquente melhor.