Deixei que o luar se encostasse ao meu olhar e parti com as mãos sujas de vergonha.
Era a rua em arraial, aquela saia rodopiava de forma entontecida. Havia o esplendor de um sorriso em meia-lua alaranjada daquela jovem mulher. A música travava-se nos ouvidos, permanecendo em tons de gala agreste. Rodopiámos o álcool nas veias onde o brilho do olhar caía-nos às carradas pelas faces vermelhas e desavergonhadas de desejo. Embalámo-nos no tom e esquecemo-nos por caminhos rodeados de escuridão. A ansiedade cabia-nos como fato em corpo nu. A brisa calava a música e os braços caíram nas dunas da ilusão. Breves eram os toques dos teus lábios pintados de carmim, persistente o cheiro do perfume que vinha embalado em gotas de mar. A noite prolongava-se nos peitos inchados de sonhos. Era ali que se espraiava a vontade dos excessos. Libertaste a cor dos seios. Eliminaste qualquer pudor e entregaste-me os teus gemidos esfomeados de gente. Perdi-me na voz da razão e atraquei na foz do teu corpo. Num grito escorreu-te a alma em sangue. Fiz-te mulher. Ainda tentei encontrar romantismo na tua face vermelha, mas encontrei uma menina pálida de medo. Chamei uma razão, mas apenas encontrei uma memória turva de uma saia que rodopiava nos meus olhos sem parar. Fugiste-me desamparada no momento. Desta vida embriagada levo um amargo na boca desses teus olhos cor de amêndoa.