Adeus partirei… sabias? Para onde? sei lá, onde a vida se esqueça de mim. Onde o meu pranto abafe o uivar do vento e as minhas mãos permaneçam estéreis de ti. Sabes? Não interessa o local, simplesmente partir numa jornada onde me possa encontrar, na linha negra do eu. Parto sem saber sequer para onde vou, sem roupas, sem ouro ou prata mas embebida de ti e lá em lugar nenhum, permanecerei fiel a mim mesma, a este corpo que permanece… Parto, será a minha sina, dum destino que não vivi, parto para lá do horizonte onde as poeiras cósmicas acariciarão o meu corpo pisado pela dor de viver. Sabes sinto o meu cadáver vagueando pelas chamas que protege a bolha sagrada dos sonhos, vagueio e não quero entrar porque sou um cadáver que antecipou o seu viver. Já sinto o cheiro da terra húmida que cobrirá o meu corpo, as rezas que entoarão aqueles que me amaram e sei que na fria laje que me identifica na eternidade cravado nas cinzas, estará escrita a frase final “aqui jaz a melhor pessoa do mundo, a mais maravilhosa de todas, aquela que desistiu de sonhar.
É isso que estará escrito e eu ? Este ser humano com sonhos, eu que não quero antecipar o cadáver ambulante? Não terei uma palavra a dizer? Revolto-me e tento entrar na bolha, sem armas nem raivas, nem magoa simplesmente com humildade e com as mãos repletas de amor.
E tu ? Diz-me e tu que não lutas, que queres desistir? Tu que na tua cegueira queres permanecer ” cadáver adiado”, anda luta não desistas, luta e ama, só assim conseguirás vencer.
Ama o mar, os pássaros, o sol, a criança que no seu olhar inocente chora, ama todo aquele que sofre as dores de ser tão-somente gente. Pára e reflecte, olha o azul do céu nas noites de verão, contempla a cor da chuva quando no seu desespero inunda a terra sedenta. Sente, estende as mãos à vida …. vive, tu que lês este texto e lembra-te o que alguém escreveu um dia “um ser humano sem sonhos é um cadáver adiado”
Eu tenho sonhos porque consegui entrar na bolha dos sonhos e tu? Entra, não hesites.
Escrito a 1/07/09