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FLOR DE SAL (Excerto IV - 1.ª Parte)

 
Tags:  romance  
 
ENQUANTO AS NUVENS SE ADENSAM, O CASAL VAI A BANHOS PARA SESIMBRA (I)


Todos os anos pelo Verão, desde que se haviam fixado na Vila, que iam a banhos para Sesimbra, vila de pescadores mas que tinha vindo a atrair cada vez mais visitantes, apesar da evidente falta de condições para albergar os forasteiros que, crescentemente, a demandavam a partir de princípios de Julho. Na falta de hotéis, (o Espadarte e o Náutico ainda tardariam a abrir as suas portas), a família Gouveia e Mello hospedava-se numa moradia que alugava no mês de Agosto a uma família de Lisboa, conhecida de Dona Carolina, mãe de Gouveia e Mello, que todos os anos os acompanhava.

Sesimbra era nessa altura uma terra mal servida de caminhos e transportes, mas animada pela intensa vida do mar, que as companhas protagonizavam. Era o tempo da sardinha, farta naqueles mares, o que incentivava a pesca das armações, que de Março a Outubro, enchiam de vida a pequena vila piscatória. Gouveia e Mello apreciava particularmente o engenho e a bravura dos pescadores, que ganhavam o pão-nosso de cada dia pondo muitas vezes a vida em risco: ainda sem porto de abrigo, a entrada para o mar fazia-se à espia ou a remos e era, em dias de mar mais agitado, uma pequena epopeia que chamava à praia magotes de veraneantes.

Em razão da amizade que mantinha com o mandador da armação, ficou desde logo aprazado, como de uso todos os anos, uma ida ao mar para apreciar a faina da pesca, mas dessa vez com a promessa que a menina Carolina também lhes faria companhia. Era o seu baptismo de mar, o que estava a provocar grande alvoroço e ansiedade na família, que Dona Carolina não engraçava muito com a ideia, pelo temor que o mar lhe fazia, apesar da confiança que o mestre lhe merecia.

Mestre Calixto – o arrais e anfitrião – já os aguardava, com os seus homens junto da barca para os ajudar a subir, para o que tinham de molhar os pés, coisa que para Carolina só lhe aguçava o sabor da aventura, tanto mais que não era vulgar naqueles tempos e naquele lugar uma menina da cidade se ver metida em tais andanças. O mar estava chão – condição, aliás, previamente fixada por Dona Maria Madalena para a deixar ir – e o movimento mecânico e coordenado dos pescadores sobre os remos fazia com que a embarcação deslizasse rapidamente sobre as águas em direcção ao destino.


Barcas de duas velas – próprias para a pesca do alto - estavam de saída para a faina do dia e nelas havia um cão a bordo, de tamanho médio e pêlo hirsuto, que concentrava as atenções dos forasteiros. O Mestre, atento à curiosidade de Carolina, explicou-lhe que se tratava do cão d’ água que servia para apanhar o peixe que ia levado por cima de água quando puxavam o aparelho. O cão era indicado para apanhar o peixe por meio de pedras que se arremessavam em direcção ao peixe até que o cão o visse. Quando o via, parava-se: “Era aí que se atirava ao mar e quando agarrava o peixe, fazia-o pela azinha, até o entregar na barca. Contou-me um camarada que, certo dia, ali para os lados do Espichel, um cão foi para agarrar uma pescada. De regresso com o peixe, gania, era sinal de que vinha mal acompanhado. Nunca largou a pescada até a entregar na barca. O cão encostou, mas um tubarão enraivecido por ele não ter largado o peixe, cortou-o ao meio, ficando metade para ele e outra metade na mão do camarada.”

Enquanto o arrais narrava aquele episódio trágico, Carolina sentiu um estremecimento e agarrou-se ao pai, o que não passou despercebido ao velho pescador que, de imediato, mudou de assunto, alertando para a proximidade da armação, rodeada de barcas de duas velas que aí se dirigiam para comprar “isca” para a sua pesca do alto. O destino estava próximo, mas alcançar o local de destino da excursão familiar, nas escarpas da costa, onde iria ser preparada uma caldeirada por mão de pescador - era uma manobra delicada, para fazer descer tão preciosos convidados, mas que correu dentro do previsto.

(Continua)

Romance "FLOR DE SAL" em Pré-Lançamento

 
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arfemo
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Enviado por Tópico
j.sofia.bernardes
Publicado: 01/07/2009 21:05  Atualizado: 01/07/2009 21:05
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Usuário desde: 08/05/2009
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 Re: FLOR DE SAL (Excerto IV - 1.ª Parte)
Olá Arfemo,
Afinal o livro já está pronto e eu não soube de nada? Continuo a gostar muito desta prosa límpida e ancorada no tempo a que se reporta. E desta vez, toca-me particularmente pois Sesimbra sempre foi uma das minhas paixões.
O cão dágua é o de Obama???

Bjos

Sofia