Tento por vezes controlar o impulso de escrever. Escrevo e escrevo, palavras sem lógica ou qualquer sentido. É assim que me sinto, na sombra talvez. Dizem que tenho um dom na escrita, que escrevo como quem respira, e que construo poemas com a mesma delicadeza e pureza de uma pétala de rosa. Não sou como tantos «poetas» que escrevem o que sentem, algo em mim fala mais alto, e sinto a necessidade de pura e simplesmente escrever e escrever. Posso estar apaixonado, e escrever sobre a morte. Não sou poeta, muito menos Pessoa, sou talvez a sombra de todos os seres que não escrevem. E o dom, seja apenas a voz que na sombra presto atenção, e me faz escrever e escrever. Sinto que não sou eu quando escrevo, talvez seja a sombra de mim próprio que projectado em tudo e todos, tocando em tudo, absorve sentimentos e memórias vagas e que pensam ser inúteis e que transponha aqui na minha reflexão.