no horizonte a linha, numa linha
reprocho o mar com o céu visionário
- a cor é quase incessantemente igual,
idêntico e prisioneiro deve ser o sabor -.
semeia o voo entre as ondas nodais
entre o dilacerar de um nimbo ameaçador,
vê como asas enlodadas rompem a superfície,
tocam o ar e fitam os olhares
desafiadores das gaivotas conterrâneas.
seguidamente, solta-se, vindo numa bolha de água,
a cabeça promíscua de anjo com pingas de sangue
como que de um nascimento se trata-se.
outra onda a chegar e a crescer,
no corpo, o nó a apertar toda uma mulher-anjo
que num sufoco requintado,
abana as asas enrugadas e
reclama a liberdade inexistente até então.
entrelaçada, puxam-lhe o restante corpo
ainda mergulhado no súbito mar pensado.
sobe e sobe e crescem-lhe os pés
e continua a subir e começa a voar
e fazes-me inveja e tudo o que resta.
não ligues
é só um "ai quem me dera"
que consome o desejo vertido
do recipiente onde guardo os sonhos.
Hugo Sousa