Quando éramos crianças, dávamos as mãos com os braços cruzados e rodávamos – juntos – para o mesmo lado. A vida resumia-se a este unir de mãos, onde éramos intocáveis. Risos, tantos risos. Olhos nos olhos; e por entre aquela oscilação lias-me a alma, e eu lia a tua. Não parávamos, até esgotarmos as forças. Era um jogo de confiança, ambos sabíamos que se nos largássemos de repente, cairíamos. Conhecíamos instintivamente, a hora de largar, e num gesto travávamos – ainda com o sorriso nos lábios – esperando sempre mais.
Perdi a conta às auroras que passaram desde então, foram as suficientes para que chegasse o dia em que deixamos de girar para o mesmo lado. Largaste-me, de repente, e deixaste que caísse no chão. Dei-te a mão, depositei a minha confiança em ti, e tu falhaste no único pedido que algum dia te fiz: não me largues!
Quem és tu? Onde foste? Não te reconheço. Perante a mesma luz, e as sombras das mesmas árvores, havia nascido um novo universo, em que as nossas brincadeiras estavam enterradas, e o sorriso deu lugar às lágrimas, assinalava-se assim o fim do nosso balançar conjunto.
Agora peço-te que me largues. Vais contrariar-me outra vez?