Oh pedras, oh pedras,
oh pedras dos meus avós,
aldeias de Portugal;
oh antigas chuvas,
pedras de antanho:
pela distância que de vós guardo,
pelas memórias de lenços, de luto,
pelos silêncios;
por um triste povo ancorado,
acossado pelo desnorte;
pelas suas cristalinas vozes
ecoando na montanha,
por um País antigo,
de cabelos tapados,
em tristeza enterrado;
-Deixai-me agora falar,
deixai-me
- que tanto impedir já mais não possas -
e recordarei hoje
o que pelo Mundo busquei.
Por calçadas e pavimentos,
por viadutos e pontes,
por esperados encantamentos,
pelas novas vias largas...
Ah, meu povo
que sobre pedras permaneces,
em teimosas lembranças,
em abafadas vozes.
Oh pedras do Norte,
granitos galegos:
de ti vêm meus olhos cinzentos
que para bem longe de ti os levei,
que hoje mais aguados trago,
que hoje aguçados os levo
pelas geadas, nortadas
e granizos de pedra, de pedra.
Sim, povo meu,
que me não estranhaste
tanto quanto eu
a ti...
...e se em tempos de gesta,
tempos sinceros,
me encantaste,
hoje nas minhas rugas
trago as mesmas amarguras.
Sim, meu povo,
sobre pedras nos sentamos
- sobre as mesmas
em que sempre ficámos
depois de cada batalha...
Ah, povo de pedras
- já poucos restamos
indagando o horizonte;
indagando este chão,
agonizante...
Aqui, sobre os nossos campos,
pedra sobre pedra,
ninguém impedir-nos se atreve
de soltarmos azedumes na verve...
Porém vai o sol já perto do ocaso
e falar já não me apetece...
(5/6/09)
José Jorge Frade