Não!
Não quero ser poeta.
Minha sensibilidade grita
Mas agora isso me irrita.
Estou surda e muda.
Cansei de ter dores,
De fingir amores.
Não!
Não quero mais acreditar.
As noites de insônias
Devem ser de parcimônias.
Felicidade é coisa da idade
E dos santos milagreiros
Deixo isso pros boêmios e cachaceiros.
Ser poeta é árduo, é ser incompreendido.
Já ouvi que todo poeta é viado,
Que tem um nó atravessado
E que grita sem ter voz.
Que para ser poeta é preciso muito uísque
E há quem pense e arrisque
Que poeta é ourives, de profissão de dinheiro.
Outros pensam que é preciso ser índio,
Nativo, negro de sangue ou amar fevereiro.
Ser poeta é ser supremo,
É abraçar com as mãos os sonhos
E fazer deles o espasmo
De uma grande convulsão.
É ser só em multidão,
É se achar bobo, incompreendido,
Falar o que pensa e ser perseguido
E mesmo assim prosseguir.
Porque para o poeta Deus sopra,
As mãos escrevem em horas bem ditas.
O poeta ouve, reflete, sente e medita,
Escreve o que lhe gritam,
Sussurram ou acreditam.
Não!
É fardo!
Não sou.
Não quero.
Cansei de fingir.
Cansei de sentir.
Não.
Tenho mãos de quem é inquieta.
Meu peito dói.
Dói de dor, dor de quem é poeta.
Ziza Saygli