Se bem me lembro,
Deve ter sido pelas seis da tarde.
Cumprimentei o anti-cristo,
Meu velho conhecido
Que vi pela primeira vez.
Vinha armado em demónio,
Com a mania que tinha forquilha.
Se não fosse toda aquela maldade,
Tinha aspecto para ser minha filha.
Primeiro possuiu-me.
Depois enfeitiçou-me.
Lá mais para o fim largou-me,
E eu estava capaz de jurar
Que o holocausto tinha acontecido.
E o que teria sido
Se o holocausto tivesse acontecido?
Nesse dia ficaria aparvalhado,
Pensava noutras coisas,
Alguém do outro lado do mundo
Morria com uma torradeira nos dedos,
Algum mineiro perderia os medos
Numa mina sem fundo.
Mas no dia seguinte,
Acordava sorridente,
Cumprimentava Jesus Cristo,
Comia o pequeno almoço
E tudo seria uma quinta-feira.
Seria como a regeneração
Do divino fígado.
Por mais diabo que lhe meta,
Nasce sempre um bocado fresquinho.
Há quem diga que estou um pouquinho
Viciado nessa religião sem profeta.