Jaime Rolo, professor da disciplina de Inglês da turma, então designada, 2º Ano 19ª, estávamos no ano lectivo de 1972/73. Pessoa rude e austera, mas de uma sensibilidade humana ímpar, vestia à maneira dos proeminentes do Estado, na época (sempre engravatado), com chapéu, fato, com calças com bainha voltada, bastante rigoroso no âmbito do trato social e na forma de como nos deveríamos dirigir a ele e no resultado da sua circunstancial resposta. Alentejano, pessoa de grande carisma no seio escolar e de uma honestidade grande, não se atormentava, nem sequer demonstrava fraqueza na resolução dos diversos casos que se lhe deparavam. Era o director de turma e sempre percorria os corredores da escola com um farto dossier, debaixo de seus braços, onde transportava os muitos processos, individuais ou colectivos, sobre os comportamentos do 2º 19ª, nunca os levando à concretização. No entanto não nos deixava de chamar a atenção para o facto de ocorrerem tais atitudes dos alunos, que deveriam ser tomadas as inerentes posições para que se ultrapassassem as prevaricações.
Há um episódio que demonstra todo o seu carácter e educação. Sua mulher falece, tendo o respectivo funeral ocorrido no Cemitério dos Prazeres, a turma decidiu estar presente no seu todo. No final, aguardamos, no lado oposto da porta do cemitério, pela sua presença, e ele ali chegado, afasta-se de quem o acompanhava, vira-se frontalmente no nosso sentido, retira o chapéu e faz uma ligeira vénia a todos nós, ao que respondemos com gesto similar. Este preâmbulo ficou registado em nossas memórias, de forma singular, sendo amiúde recordado.
Pois, foi numa das suas aulas (era a única disciplina onde a turma não tinha processos disciplinares), que em pleno silêncio, enquanto o professor escrevia uma frase em inglês no quadro, que alguém se lembrou de largar uma flatulência. Só que a mesma resolveu impregnar o exterior do seu “dono”e saír de uma forma ruidosa, embora de baixo calibre, e prolongada. Com um contido sorriso geral, ninguém de pronunciou. No final da aula o prof. Jaime Rolo, dirige-se ao Pinto, chefe de turma, e pede-lhe para permanecer na aula após o toque de saída, pois queria deixar-lhe umas palavrinhas. O que se passou a seguir só o soubemos quando o Pinto saiu da sala e a nós se dirigiu a contar… foi uma gargalhada geral, ainda hoje recordada com a simplicidade de como se devem memorizar os intervenientes daquele diálogo.
“Ó Pinto, diz lá quem é que deu o peido?” (isto inquirido de forma lenta e altiva, como era seu apanágio, na sua pitoresca forma de falar…)
__________________________________________________
Pequenas crónicas sobre estórias passadas na Escola Comercial Patrício Prazeres há quase quarenta anos...
António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...