Corpos estranhos
invenções delirantes, indescritíveis
estrondos de sombra e luz.
Rodas da vida. Hélices retorcidas,
cérebros deformados, automatismos,
reflexos desfocados em contra-luz.
Cegueiras por não querer ver…
Analfabetismos,
cicatrizes devoradoras e vorazes
ondulantes
neste tempo p’ra esquecer.
Escrevo-te. E descrevo-te
assim:
umas vezes mais ou menos
outras, mesmo, ruim.
Coloco o meu tempo por cima do teu
e vejo nele tatuagens sobre tatuagens
e miragens…
Coisas doutro tempo
que este actual esqueceu.
Apetece-me desligar a máquina do tempo.
Fazer um laço de cânhamo
– um laço corrediço – suspenso
de misterioso céu,
para enforcar o tempo malvado
que já me não dá tempo de nada,
nem mesmo entre um intervalo e outro,
e dizer-lhe:
“quem manda no tempo, agora, sou eu!”