Porque sonho secretamente...
Num beijo te enlouqueço,
e em cada golpe de valsa,
o aroma de ópio se decifra no ar.
O âmbar que corre em tuas veias...
aquela musica ao fundo do corredor...
gira-discos que toca e retoca... só para nos ver dançar.
Sonho e perco-me na imensidão deste coração...
Este sonho secreto que me corrói.
O teu olhar prostrado... O teu ser enclausurado...
Tenho saudades de ti e não toquei ainda tua pele...
Saudades dos beijos perdidos nos meus lábios.
Saudades das noites em que se rasgam tédios...
em que consequências de mordidas são noites de desejo,
incontroláveis desejos da leveza do ser.
Porque sonho secretamente...
porque nestas brumas em que neste momento me encubro...
quando estou neste penhasco atirando pedras...
sinto-me tão intocávelmente só...
a nobreza de uma alma viva...
a vivacidade de uma alegoria de ideias...
as notas desgarradas de guitarras soltas
vêm me confortar...
e quanto as ruas vejo passar...
ao som de tristes fados...
fados que de tão tristes conseguem sonhar mais do que eu.
E este corpo intocável,
esta alma indomável,
domada... atribulada...
Por um sonho secreto.
Diz-me... onde estas tu,
onde te escondes,
o refugio desses lábios,
perfuma teus passos...
que eu os irei seguir...
Podes-te esconder...
Podes me temer...
Vem-me beijar...
E por favor... não me respondas não...
podes demorar um século na tua resposta...
mas deixa-me continuar a voar...
neste meu sonho secreto.
Alexander the Poet