O último poema de Tiago Freitas:
O início da Escuridão...
Escuridão!
Eu desisto;
Ganhaste!
A luta foi devastadora
E não tenho mais forças…
Eu desisto de tudo;
Desisto de ter brilho no olhar,
Desisto de tentar sorrir,
Desisto de ser eu e tentar viver a realidade!
Desisto da vida que nunca pedi…
Como um tumor
Tens percorrido todo o meu corpo
Agora sei que entraste em mim para ficar.
Tentei combater;
Mas sem armas ninguém consegue combater!
Sem aliados a batalha não faz sentido
E a derrota é mais que iminente
Sem vontade a batalha é um flagelo
E a morte é a única coisa que resta…
Tenho o corpo vazio e eu sinto-o
Desprovido de amor;
Desprovido de alma
(se existir);
Desprovido de alguém…
Desisto de tentar viver na realidade
O meu mundo está cada vez maior
É como uma bola de neve
Que não se consegue nunca parar…
Neste globo onde vivo os dias
Rasgo folhas com um pouco de mim
As folhas são a minhas emoções
Que se acumulam no limiar da esfera
E cada folha;
Menos ar para respirar;
Menos uma cara para ver;
Menos realidade para viver…
Desisto de viver a realidade
E desisto de amar;
Pois sei que em mim possuo demasiados mundos
Para serem amados…
A sobrevivência será feita numa demanda solitária
Num caminho sem ermo e que só eu poderei percorrer…
Olho para trás e os rostos apagam-se;
As caras de quem amei deixam de sorrir
E vão esvanecendo,
E vaporando no ar
Desaparecendo para sempre!
A todos os que deixei um pouco de mim:
Não esqueçam esse eu…
Pois o caminho agora,
Sei que o tenho que fazer só…
Oiço vozes…
Milhares de eu’s tão diferentes de mim.
Eu’s infinitos…
Eu’s que nunca vi,
Que não pensei existirem em mim;
Eu’s que nunca quis acreditar que existiam em mim.
Luto contra todos mas demasiados
Todos me atacam
E como em todas as batalhas que travei;
Eu estou só!
Todos me abalroam, todos me sufocam
Lutam para me expulsar
E eu não sei porquê…
Um corpo tão pequeno para tantos eu’s.
Talvez ainda seja o único eu
Que tem a razão em sim
E talvez no fundo um pouco de esperança
De viver mais um dia…
São muitos e em breve sucumbirei,
São demasiados e eu não sobreviverei
E um dia quando o vosso destino cruzar o meu;
Lembrem-se:
Já não serei mais eu…