Os pés estão pesados e já custa arrastá-los;
Procuro um sentido para a vida que não quero viver
Ando à procura de um destino que não sei se é o meu…
Caminho na estrada em que sempre caminhei,
Uma estrada fria feita de indiferença,
Rezo para que não haja pedras durante essa minha caminhada;
Porque quem arrasta os pés não consegue atravessar pedras…
O caminho é íngreme e é feito de indiferença,
A indiferença que sinto por mim mesmo e pelo gosto de cada dia.
Caminho só e sempre o quererei fazer só!
Em tempos quis ter quem caminhasse a meu lado,
Mas sei que agora nada disto faz sentido!
Há mundos que estão destinados ao abandono
E eu carrego em mim infinitos mundos
Demasiados para alguém poder amá-los a todos.
A minha derradeira vontade era ser criança novamente
Ter nos olhos a ignorância do mundo
E saber apenas o que sei e não me preocupar para além disso
Pensar que um gesto é apenas um gesto e nada mais…
Gostava de não eu e viver uma vida sem pensar em ser eu
Ser mil uma pessoas diferentes,
Ter milhões de feições e viver intensamente milhões de momentos
Até deixar de ser eu…
Sonho o dia em que a minha estrada acabe!
O dia em que finalmente consiga alcançar a paragem do autocarro
Todos os dias tento lá chegar andando rápido,
Correndo ou até mesmo sonhando;
E todos os dias eu falho e nunca lá chego
Todos os dias eu me questiono: Porquê?
E fico aí perdido no caminho dos meus infinitos mundos…
Todos os dias eu tento;
Deixar de ser eu para voltar a ser eu.
Talvez tenha nascido no mundo errado, no tempo errado;
Ou mundo e o tempo errado é nasceram em mim…
Já nem sei dizer, porque eu nunca aprendi a dizer nada!
Todos os dias eu espero à porta de casa
Pela borboleta que me agradeceu a liberdade
E veio morrer olhando para mim…
Talvez ela soubesse quem sou
E num gesto de despedida e de pena
Olhou-me talvez nos olhos e compreendeu o meu destino!
Ficar entre os milhares de mundos que construi
Feito um tolo e sem compreender bem porquê.
Foi ai que comecei a viver nos sonhos o real;
E no real transpus os sonhos e vivi-os como nunca quis viver!
Tambores tocam e chamam-lhe otite
Tambores tocam e eu choro no escuro,
A minha mãe corre e vem acudir o menino especial
O menino que o destino quis marcar diferente;
Com uma pele seca e sem sentimentos
E um olhar negro e incompreendido e cheio de lágrimas por chorar…
De olhos vendados procuro amor
Palavra tão estranha e já sem sentido
Na minha memória ficou aquela velha escola primária
Onde um menino de olhos negros encolhe-se a um canto
Por ser diferente e ninguém o aceitar pela diferença
(A diferença está nos olhos de quem a vê!)
Incompreensível e incompreendido!
Aquela escola onde nunca me vi partir,
Para além do real e para além do que sonhei
Anos perdidos diante daquele portão esperando algo que nunca virá
Tu embrulhada num vestido branco feito de ilusão de felicidade
O vestido que prometi um dia dar a alguém.
Mas foste embora e perdi-te o rasto para sempre
Procuro nos rostos da rua e do mundo
Os teus eternos olhos azuis,
Os teus lábios rosa e teu cabelo preto de escuridão;
A mesma escuridão em que me perdi e perco
Criança adolescente e adulto!
Chama-se Maria e foi o primeiro amor
A primeira memória, o primeiro beijo nunca dado;
O primeiro sinal…da diferença…
Hoje em dia dizem que estou mais bonito…
Finalmente! Depois destes anos todos finalmente apareci!
E eu a pensar que já existia desde que me lembro de respirar…
Tão tolo que sou!
Talvez tenha estado encurralado entre os meus infinitos mundos
E só agora descobri a chave da porta que dá para o mundo exterior…
O mundo exterior é tão mais feio que aquilo que eu pensava
E tão mais fechado e só que a solidão em si própria…
Será que só agora nasci?
Será que só agora comecei a pensar?
Será que só agora sei quem sou?
Ou será que tenho estas eternas dúvidas
Para sempre sem resposta nenhuma?
Estas dúvidas são apenas mais um reflexo de quem está louco!
E eu estou louco!
Louco desde que nasci agora!
Estarei sempre condenado à loucura;
A loucura de quem vive esta triste realidade
Imaginada e presa entre infinitos mundos…