Sócio fundador.
Camisa azul a rigor,
Primeiro accionista
E pai da seita cotada.
Decidiu expandir o seu negócio
Pautado por rigidez de preços.
Sócio número dois.
Camisa cor de rosa
Sobre calças brancas.
Carregava a mala
Maior que o seu poder
Sobre os seus finos ombros.
E assim ela se apresentou.
E valorizou.
O sócio fundador
Deu quarenta e nove
Em cada cem das suas queridas acções.
Sem condições. Sem coacções.
Ai, o sócio número dois.
Que sorriso apaixonante.
Pouco batom e muita conversa,
Um pouco a figura inversa
Do investidor habitual.
Ai, aquele sócio número dois.
Causava tremendas reacções,
Aquele sócio que piscou o olho
E fugiu com as acções.
Tinha um penteado estranho.
O feitio também o era.
Mas tinha no coração a essência
Que traiu o fundador
E entregou tudo à concorrência.
O fundador chorou por ruas e travessas
A perda das suas queridas acções.
E do sócio número dois.
Ai... o sócio número dois.
Pouco tempo depois,
O mercado desabou
E a prospecção de fundadores
Rapidamente acabou.
O mestre criador,
Embriagado na sua meia pobreza,
Sentou-se à mesa para discutir
Um negócio sem importância.
Potencial sócio número três.
Nariz empinado,
Cabelo curto e certinho...
Olhar arrasador. Meu Deus, aquele olhar!
Tinha potencial de crescimento
E também a cor azul do mar.
Sorriso, olhos nos olhos.
Sorriso que não quebrava,
Desafiando as leis do tempo
E da sensatez.
Sorriso entre dois ombros
Cobertos de branco,
Menos branco que neve,
Mais branco que preto.
Mas o fundador, teimoso como é,
Decidiu de boa fé
Não vender o que tinha.
Sabia que depois vinha
A perda do controlo da empresa.
Uma empresa chamada coração,
Partida em duas partes quase iguais.
E o fundador não podia dar mais.