Era uma vez um homem que não escrevia.
Não escrevia porque não tinha mãos.
Era maneta de nascença,
era dura a sua vida.
Em nada conseguia tocar,
nada conseguia agarrar.
Precisava de ajuda para tudo,
era um pobre coitado,
era reles uma vida assim.
Mas aquele homem era feliz.
Era feliz porque era poeta.
Não escrevia, mas pensava.
Pensava e sentia.
Sentia e amava.
Amava e via o que mais ninguém via,
a realidade das coisas,
a verdade,
a mentira...
Apesar de não escrever,
desenhavam-se na sua mente letras e palavras,
versos de amor,
versos de alegria,
versos de paixão,
versos de esperança,
tantos versos,
tantos momentos,
tantos sentimentos...
Ele escrevia para ele próprio,
não numa folha de papel,
mas na sua mente,
e sabia o que realmente era a poesia.
Ser poeta não é escrever algo bonito,
ser poeta é algo mais!
Ser poeta é simplesmente ser poeta,
e sentir,
e amar,
e pensar,
e ver com olhos de ver.