- No dia em que a minha mãe morreu
dobraram os sinos do Céu!
Minha Mãe.
Como eu gostava de te ouvir dizer
“Bom dia”
logo pela manhã, para me acordares.
Dizeres-me ao ouvido
no murmúrio dum beijo
tão sentido
“acorda meu filho, olha a escola,
que o dia está a romper”.
Pousavas a tua mão no meu cabelo
revolto,
- como a vida que me é madrasta…-
aconchegavas-me o casaco ao pescoço
arrumavas-me os cadernos na sacola
- conhecia-los todos de cor
sabias o que diziam mesmo no teu analfabetismo
inconformado -
e aí íamos nós
ladeira acima até Olas
por essa longa encosta fora,
apertando na tua mão tão quente
a minha mão tão fria
a caminho da escola.
Hoje
não te vejo ao dobrar daquela esquina
onde ficavas, com o lenço que cobria os teus cabelos,
negros cabelos,
a dizer-me eternamente adeus.
Nunca mais te sentirei a afagar os meus
- tão rebeldes quanto eu! -
com os dedos dessa mão
tão belos.
Deixei de te ouvir dizer
ao anoitecer
“vai-te deitar
que amanhã também é dia…”
tu, que me ensinaste a benzer
e a dizer
“Pai-Nosso Avé-Maria”,
com as tuas palavras de amor
de fé, muita fé
e alegria.
Sei, minha Mãe,
a quem sempre conheci de fronte erguida
que tenho muito a aprender
da lição que me ficou
da tua vida!