“Não quero cantar”
Diz a voz ao coração
“Não estou inspirada para entoar
Sinto um travo, uma prisão”
“Mas eu preciso que o faças”
Diz-lhe ele com cuidado
“ Mas assim tu me embaraças
E se o fizer, sairá desafinado”
“ Que deverei então fazer,
Se tu não me podes ajudar?
Hoje mesmo não posso prender
O que quero que alguém possa escutar!”
“Facilmente o conseguirás
Se pedires aos teus olhos o olhar
E neles dirás e cantarás
O que não queres abafar”
“E tu achas que eles cantarão como tu?”
Insiste ele atrapalhado
“Sei que sim, se te mostrares nu,
Sem sombras ou em medos embrulhado”
“Sabes que por vezes eu engano sem querer
Porque disfarço o que sentes
E no final fico sem perceber
Se me transmites a verdade ou se mentes”
“Mas eu sou sincero contigo
E a ti não consigo disfarçar
O que se passa comigo
Ou que quero por ti cantar”
“Pois, eu sei, tu és bom
Por isso saber que o teu olhar
Não mudará em nada o tom
Daquilo que queres mostrar”
“Porque dizes isso assim?
“Porque sei que dos olhos
Todos podem ler
O que tu queres dizer
E não conseguem disfarçar
Tudo aquilo que queres calar”