“Crescemos?”
Sim crescemos…
Sem dúvida que crescemos!
“Porquê?”
…
Não sei, apenas crescemos.
Nada mais, apenas crescemos!
As brincadeiras ficaram,
Algumas dentro de nós.
Outras nas memórias que abandonámos,
Nos locais onde não brincamos mais.
O que fomos um dia,
O que sentimos um dia,
Levou-os o tempo,
Para o seu eterno lugar
Onde nenhum humano sonha chegar…
Os sorrisos que outrora tivemos
Os que decoraram a nossa cara;
Gastou-os o tempo
E as provações da vida!
“A saudade ficou?”
Sem dúvida que ficou!
(Ficou em nós!)
Ficou nos lugares que deixamos para trás
No tempo em que brincámos juntos,
No tempo em que juntos brincámos!
Deitadas as lágrimas,
Levantadas as cabeças,
Acerados os corações,
Olhamos para trás e corremos em frente
Mas sabemos nunca chegar a lado nenhum
A conclusão nenhuma…
Desde sempre que estamos presos
Aquelas brincadeiras que achámos terminadas;
Aos lugares que fizemos remotos;
Aos sorrisos que prendemos na boca…
A tudo aquilo que achamos memórias!
Éramos apenas crianças!
Não compreendíamos o mundo,
Nem o mundo nos compreendia a nós.
De nós nada foi deixado para trás
De nós ficaram as fotografias
Imagens vagas e que não falam, nem nada sentem…
O passado ficou perdido e gasto
Como o mesmo pó que cobre as molduras
Que se espalhou por nós mesmos
Com o lento e apagado
Andar do triste relógio
Que nunca pára…
Que pára nunca…
A que demos nome de tempo!
Estou eu,
Estás tu,
Estamos nós,
E todos os que lá ficaram!
Retidos, prisioneiros e sustidos
Nesse anda vagaroso do tempo;
Nessa doce e inocente vontade
De ir vivendo no presente o passado.
A pura incompreensão do mundo,
A pura incompreensão de nós!
Fiquei retido no que fui,
Pensando o que nunca irei ser.
Fiquei sentado no topo do mundo
(Uma simples pedra cinzenta,
Ao pé das nossas memórias)
“Como o mundo é grande!”
Olho o azul escondido no céu
Olho a montanha triste que ficou por explorar
Olho uma poça de chuva
E vejo uma triste e infinita expressão
“Quem é que não te conheço?”
Perdi-me de mim…
Perdi-me em mim…
Deixei-me crescer…
Perdi as brincadeiras
Perdi o que fui e senti…
Perdi os lugares da infância…
Perdi a incompreensão…
(E como gostaria de a reencontrar!)
Perdi o vagaroso relógio…
Perdi a vontade de ir vivendo
O passado o presente e o futuro…
Perdi o que amei…
Perdi a pedra cinzenta
E as nossas antigas memórias…
Perdi o azul e o céu,
A triste montanha,
E a poça de chuva onde escondi o meu rosto!
Perdi tudo!
Perdemos tudo!
Despi-me das brincadeiras
Despi-me dos lugares
Despi-me dos sorrisos
De mim, de ti, de nós!
Da montanha, do céu, de tudo!
E corri!
Corri, corremos,
Mas nunca o tempo correu…
Juntos? Separados?
Correndo? Parados?
Crescemos?
Sim crescemos…
Sem dúvida que crescemos!
Mas a que preço?