Minhas confidentes caladas, as plantas, secaram, murcharam, cresceram e me pergunto o quanto foi que notei sobre suas transformações. Recordações, o barulho da vassoura de galhos de árvores, as folhas secas no chão, as galinhas.
Lembro em especial de uma galinha d’angola, aquela pequenina, e seus filhotes perambulando pelo bosque. Todos pintinhos, como de costume, atrás dela e eis que um pintinho meio estranho estava no meio do conjunto quase uniforme. Um pouco maior que os outros ele destoava uma uniformidade visual, mas igualmente carente e necessitando seguir alguém o tal pintinho grandão, seguir uma mamãe.
Não sei quem se adotou primeiro, se o pintinho a galinha ou se a galinha ao pintinho, o fato é que se adotaram mutuamente em determinado momento e não deixaram as diferenças externas modificarem seus sentimentos, até mesmo quando a evidência do tamanho já chocava o olhar. O pintinho em comparação aos outros era praticamente um frangote, enquanto os outros pintinhos ainda eram pintinhos. Era o tal quase do mesmo tamanho da mamãe galinha, mas qual, essa diferença, não os impossibilitou laços de família. Lá estava ele franguinho seguindo junto com a ninhada sua pequena mamãe que o esperava, como a todos, caso se atrasasse.
E era assim, a galinhazinha na frente e os pintinhos e o pintão atrás.
O que é o tempo? Os pintinhos, a mamãe, o pintão, se acostumaram uns com os outros? Se confiavam em si mesmos? Por certo cumpriam seus papéis sem maiores divagações. Um orienta outros são orientados, a maternidade na galinha é uma dedicação temporária mas integral.
É o tempo que mostra as personalidades uns dos outros pela contínua presença uns com os outros? É assim que se conhece e se aprende a se comportar? E a mudança de papéis?
Não cabe à galinha a reflexão, ela apenas cumpre fielmente seu papel, não entra em crise nem se pergunta: será que era isso que eu queria realmente para mim? Não cruza as pernas e pede um tempo ao senhor frango que, por favor, assuma um pouco a responsabilidade de cuidar dos filhotes, afinal são filhos seus também. A galinha não se cansa nem começa a berrar com suas crias reclamando que o encargo é grande demais, pois afinal de contas são muitos filhotes para uma mãe só.
Pobre galinha não tão pobre assim. Sua solidão diária com relação à reflexão, o seu não pensamento, lhe dá a conduta natural e inquestionável do caminho a seguir. Apenas faz, acorda todo dia e executa o seu papel de galinha. Não se desvia de ser apenas o que é, galinha. Apenas a galinha é simplesmente em toda sua natural simplicidade uma galinha. Galinha filhote por tempos, depois galinha adulto, macho ou fêmea, e a galinha mãe ou o galo pai, fechando o ciclo ser se galináceo.
E o galão atrás da galinha, seguidos todos dois pelos irmãos do coração, coração tão pequeno na galinha e tão grande de emoção pela tal não reflexão.
Kátia.