Poemas : 

O ALFINETE

 
Não fui convidada para ir à pesca, mas quando saí de mim tropecei na tua rede porque a linha estava fora dos carretos. Propositadamente caí.
Primeiro foram as gravatas e os nós que o tempo se tinha encarregado do colocar no ar, e os enlaces eram tão encobertos, que se revelavam de papo furado.
O rascunho de nós, mais parecia um trapo saído de um programa de lavagem impróprio para inteligência Neandertal.
A mensagem das badanas em código morse atraía as minhas orelhas apesar de já conhecerem de cor o anzol de tal olhar.
O sinal da rede era por demais evidente e eu, que sou mesmo trouxa, passei-me e fui encher pneus.
Comecei a pescar sem querer tudo o que o mexilhão não queria, tinham feito de mim o contentor do maremoto, que agarrado ao gancho do meu cabelo, balouçava o mar no seu ventre.
Depois, quiseste a todo o custo decifrar-me, esventrar os meus olhos, deixar-me cega. Perdi-me, confesso!
Mas não sei se lamento mais esta cegueira ou esta cegada, porque ando mais perdida que cachorro sem dono, mas com a chatice de andar presa na tua rede por um alfinete...

 
Autor
RoqueSilveira
 
Texto
Data
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1913
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Enviado por Tópico
João Marino Delize
Publicado: 09/06/2009 14:30  Atualizado: 09/06/2009 14:30
Membro de honra
Usuário desde: 29/01/2008
Localidade: Maringá-
Mensagens: 1976
 Re: O ALFINETE
Belo texto poético, cheio de parábolas, para comparar o amor a uma pescaria. Gostei, daria para começar a escrita de um romance.

abraços


Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 09/06/2009 14:58  Atualizado: 09/06/2009 14:58
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: O ALFINETE
É no que dá... lançar a linha e pescar um aMOR SAbes?... rss. Azar o meu que nunca percebi nada de pesca (e acho que de amor também não).
Gostei desta abordagem desconcertante!
Um abraçooo!
Abílio,


Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 09/06/2009 16:11  Atualizado: 09/06/2009 16:11
Membro de honra
Usuário desde: 20/05/2008
Localidade: Porto
Mensagens: 2999
 Re: O ALFINETE
Ai! E eu que pensei que a trouxa era minha, cá dos meus doiros! Então também pescam?... (ou se pescam?...) mas deixa lá, cair na rede cai qualquer um(a), e a trouxa da minha terra até serve para amortecer o atrito do cesto vindimo contra a cabeça (fora de água...). Isto de pesca e vindimas dá-me a volta ao lagar...

rsrsrs...

...e beijinhos!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/06/2009 16:58  Atualizado: 09/06/2009 16:58
 Re: O ALFINETE
um belo texto cheio de imagens figurativas. sei como é estar presa na rede dos pensamentos. bj
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Enviado por Tópico
Norberto Lopes
Publicado: 09/06/2009 19:29  Atualizado: 09/06/2009 19:31
Membro de honra
Usuário desde: 15/03/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 896
 Re: O ALFINETE
Uma coisa!
De repente, foi como se escutasse Teresa Silva Carvalho, a cantar a Barca Bela de Almeida Garrett:

«...Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador...»


Enviado por Tópico
salomé
Publicado: 09/06/2009 19:48  Atualizado: 09/06/2009 19:48
Da casa!
Usuário desde: 25/01/2008
Localidade:
Mensagens: 409
 Re: O ALFINETE
Escrever o que vai nos nossos pensamentos pode ser uma grande rede, ou se pesca ou se é pescado.Beijnhos


Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 09/06/2009 23:13  Atualizado: 09/06/2009 23:13
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: O ALFINETE
O código morse quis desfazer o enredado dos fios, e a rede enredou-se agora no código morse. E se o alfinete for daqueles de bebé, custa a abrir.

Gosto dos enredos da tua prosa!

Um beijinho


Enviado por Tópico
glp
Publicado: 10/06/2009 00:11  Atualizado: 10/06/2009 00:11
Da casa!
Usuário desde: 26/02/2007
Localidade: Belas
Mensagens: 464
 Re: O ALFINETE
Gostei de ler!

Bjos


Enviado por Tópico
veracabalini
Publicado: 10/06/2009 15:11  Atualizado: 10/06/2009 15:11
Participativo
Usuário desde: 06/06/2009
Localidade: Aracruz (ES)
Mensagens: 14
 Re: O ALFINETE
Seus escritos são dotados de elegância, sensibilidade e inteligência.Divinos!
Sou sua fã.

Obrigada pelos comentários. Se quiser ouvir a música, além daquela tenho outras disponíveis em audios (google- recanto das letras- autores: vera cabalini- audios) e tb no you tube.

Grande abraço


Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 11/06/2009 15:08  Atualizado: 11/06/2009 15:08
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: O ALFINETE
...pronto, la estamos outra vez e desta feita, nem convidado fui ( eu vou-me rir) e o que tu nao sabes é que tenho asas de ícaro e pronto todas as pessoas teem asas..andam à pesca como tu! que raio de sorte a minha esta de ser sortudo, melhor orelhudo como um porco disfarçado de burro...tu andas muito a falr de nós..tenho-te que o que quererás dizer é o casamento! e esta coisa do neandertal? eu até soluço os cabelos, senhora!
nao gosto do alfinete tem pouca utilidade...tu queres dizer isco!


abraço para ti Roque com tudo de bom....


Enviado por Tópico
Ibernise
Publicado: 23/06/2009 02:51  Atualizado: 23/06/2009 02:51
Colaborador
Usuário desde: 04/10/2007
Localidade: Indiara(GO)
Mensagens: 1460
 Re: O ALFINETE
Roque Silveira, querida amiga, ilustre poeta.

Sentir-se perdida ou deixar-se prender às vezes faz uma diferença. O eu poético
parece desejar descobrir esta diferença. Roque, gostei muito da singularidade deste seu texto, uma subjetividade que se põe aleatória sem o ser, uma realidade em prismas, refletida para todos os comprimentos de ondas que nos fazem enxergar a vida, sem deixá-la passar por nós despercebida.

Adorei e recomendo.

Felicidades.

Bjs

Ibernise