Tal qual me sucede a mim:
sem ter vulto, sem ter voz,
vive qualquer coisa em nós
que manda fazer assim.
Vai-se uma luz, outra existe,
nova aurora nos seduz;
deve ser muito mais triste
a gente deixar a luz
Se pedir peço cantando,
sou mais atendido assim;
porque, se pedir chorando,
ninguém tem pena de mim.
Meu aspecto te enganou;
o que a gente é não se vê;
pergunta a outrem que sou,
pois o que sou nem eu sei.
Quem me vê: dirá não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém trás na testa
o selo de quanto vale.
António Aleixo,( Este livro que vos deixo )
António Fernandes Aleixo
(✩ 18/02/1899 — † 16/11/1949)
Autores Clássicos no Luso-Poemas