Prefacio da terceira edição, corrigida, de, Este livro que vos deixo:
Actualidade viva de um poeta morto:
A actualidade da mensagem deste poeta singular evidencia-se e toma relevo crescente à medida que o tempo passa.
Desaparecido em 1949, aos cinquenta anos, não entraram os seus versos naquela zona de penumbra, mais ou menos silenciosa, que costuma suceder à obra dos escritores que, em vida, tiveram a sua aura de mais ou menos justificada popularidade. Com António Aleixo, considerado poeta menor, dado que, por carência de estudos regulares, pouco menos era do que meio-analfabeto, verificou-se este fenómeno insólito: duas edições de « Este livro que vos deixo», lançadas em 1969 e 1970, por diligencias de um filho de poeta, mantiveram, durante semanas seguidas, o primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos do país. A razão desta singularidade está em que o conteúdo das quadras e dos esboços de teatro, contidos no volume, correspondia a preocupações morais e aspirações sociais que, já por esse tempo, animavam as consciências de grande numero de portugueses. E, sob a forma lapidarmente sintética de muitas das quadras do singular poeta algarvio, explodia, ou sorria, a expressão contundente ou contestatária de velados ou explícitos protestos, humanos e justos, perante uma sociedade fortemente policiada e dificilmente vulnerável por outras formas directas de critica ou ataque frontal. O protesto adiado de um poeta morto e, ainda para mais, elaborado por um homem do povo, que, em vida, não fora considerado socialmente perigoso, pôde assim corresponder a anseios vivos de gente viva. Daí o êxito excepcional. Para ele contribuíram ainda transcrições frequentes em jornais e revistas, cantores e declamadores e até, passadas pelas malhas da vigilância, referencias e apresentações de textos pela rádio e na televisão. Por outro lado, grupos de amadores iam representando, conforme podiam, e com os indispensáveis disfarces de defesa, os seus ensaios de teatro de tipo popular vicentino.
Assim se esgotaram os exemplares das duas edições deste volume, e se justifica que se lance esta nova edição.
A actualidade da mensagem de António Aleixo torna-se mais evidente nas novas condições da vida portuguesa. O poeta está, afinal, mais vivo, hoje, do que enquant andou por este mundo.
Cremos que lhe deve ser reservado lugar cimeiro de participante de formação do Portugal novo que todos os portugueses conscientes desejam socialmente menos injusto do que aquele em que o poeta viveu e penou.
Fevereiro de 1975
Joaquim Magalhães
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Obras completas de António Aleixo
QUANDO COMEÇO A CANTAR… – 1ª Edição, Faro, 1943; 2ª edição, Coimbra, 1948; 3ª edição, Lisboa, 1960
INTENCIONAIS – 1ª EDIÇÃO, Faro, 1945; 2ª edição, Lisboa, 1960
AUTO DA VIDA E DA MORTE (1 acto) – 1ª edição, Faro, 1948; 2ª edição, Faro, 1968
AUTO DO CURANDEIRO (1 acto) – 1ª edição, Faro, 1949; 2ª edição, Faro, 1964
ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO… Volume I, 18ª EDIÇÃO, Lisboa, 2003
ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO… Inéditos – Volume II , 13ª edição, Lisboa, 2003
INÉDITOS – 1ª edição, Loulé, 1978; 2º edição, Loulé, 1979
António Fernandes Aleixo
(✩ 18/02/1899 — † 16/11/1949)
Autores Clássicos no Luso-Poemas