Poemas -> Desilusão : 

Madrugaste em mim sem ter amanhecido

 
Deslizo na tua boca de vigílias agrilhoadas
em espinhos famintos de negras rosas
na dor imposta desta nossa distância.
Bebo do delírio coralino dos teus olhos
o vinho ébrio e o brilho falacioso
de prometidas d’alvoradas.

Viajante de um tempo sem memórias,
em arestas buriladas aos ventos do mutismo,
navegaste o meu corpo de amurada
em auroras despidas de claridade.

No entalhe d’artes emboscadas
falaste-me de ternuras, de sedas fartas,
resguardadas no porão da tua nau, em paliçadas,
e de uma planície alaranjada sucumbida em trilhos
calcorreados no trigo louro de fim do dia.

Cantaste-me a sede do meu corpo
num verbo desvendado, povoado de disfarce,
urdido em cometas e em estrelas diurnas.
Em espíritos fundos de saudade acesa.

Madrugaste em mim sem ter amanhecido
e partiste, ainda a noite respirava dia,
ainda a noite temia sucumbir em agonia
à fragrância sulfúrica do meu corpo
que, solitário,
tesouro não desvendado, ali morria.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Gilberto
Publicado: 01/06/2007 22:12  Atualizado: 01/06/2007 22:12
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Usuário desde: 21/04/2007
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 Re: Madrugaste em mim sem ter amanhecido
Mais um belíssimo poema! Onde o sujeito poético, mergulha nas perfundezas da sua memória.
Transportando para este belo poema, a desilusão, e o desncanto.
Deixando subliminarmente, uma nostáglica recordação de momentos, não acontecidos.

Adorei este lindíssimo poema! (10)

Beijinhos Mel

Enviado por Tópico
Carla Costeira
Publicado: 01/06/2007 23:14  Atualizado: 01/06/2007 23:14
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Mensagens: 918
 Re: Madrugaste em mim sem ter amanhecido
Sem dúvida, lindíssimo amiga, adorei!!!
Bjs

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 01/06/2007 23:24  Atualizado: 01/06/2007 23:24
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Mensagens: 3731
 Re: Madrugaste em mim sem ter amanhecido
Querida amiga, sabes que te gosto de ler... sabes não sabes?
Sabes pois!
E este é mais um daqueles poemas que tu tão bem sabes escrever mas que me deixas sem saber o que te dizer...
Apenas te digo isto:ADOREI!!!

Beijo

Enviado por Tópico
juvepp
Publicado: 02/06/2007 13:22  Atualizado: 02/06/2007 13:36
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 Re: Madrugaste em mim sem ter amanhecido
Olá Mel, Num verso longo e num ritmo lento à semelhança do tempo psicológico que dura sempre mais do que o real, o teu poema glosa a temática da desilusão, do abandono, sem que o dia, ao menos tivesse amanhecido. Denuncia a falta de tempo do outro que parte "ainda a noite respirava dia". Gostei Parabéns

Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 02/06/2007 21:04  Atualizado: 02/06/2007 21:04
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 Re: Madrugaste em mim sem ter amanhecido p/ tds os que comentaram
Muito grata a todos.
Um abraço
Mel