Sonetos : 

CEM SONETOS DE AMOR

 
Soneto XXXIX

Pero olvidé que tus manos satisfacían
las raíces, regando rosas enmarañadas,
hasta que florecieron tus huellas digitales
en la plenaria paz de la naturaleza.
El azadón y el agua como animales tuyos
te acompañan, mordiendo y lamiendo la tierra,
y es así cómo, trabajando, desprendes
fecundidad, fogosa frescura de claveles.
Amor y honor de abejas pido para tus manos
que en la tierra confunden su estirpe transparente,
y hasta en mi corazón abren su agricultura,
de tal modo que soy como piedra quemada
que de pronto, contigo, canta, porque recibe
el agua de los bosques por tu voz conducida.




Soneto XL

Era verde el silencio, mojada era la luz,
temblaba el mes de Junio como una mariposa
y en el austral dominio, desde el mar y las piedras,
Matilde, atravesaste el mediodía.
Ibas cargada de flores ferruginosas,
algas que el viento sur atormenta y olvida,
aún blancas, agrietadas por la sal devorante,
tus manos levantaban las espigas de arena.
Amo tus dones puros, tu piel de piedra intacta,
tus uñas ofrecidas en el sol de tus dedos,
tu boca derramada por toda la alegría,
pero, para mi casa vecina del abismo,
dame el atormentado sistema del silencio,
el pabellón del mar olvidado en la arena.


Pablo Neruda
( 12/07/1904 — 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas



Soneto - XXXIX



MAS esqueci que tuas mãos satisfaziam

as raízes, regando rosas emaranhadas,

até que floresceram tuas digitais pisadas

na plenária paz da natureza.



O enxadão e a água como animais teus

te acompanham, mordendo e lambendo a terra,

e é assim como, trabalhando, desprendes

fecundidade, fogoso viço de cravos.



Amor e honra de abelhas peço para tuas mãos

que na terra confundem sua estirpe transparente,

e até em meu coração abrem sua agricultura,



de tal modo que sou como pedra queimada

que de súbito, contigo, canta, porque recebe

a água dos bosques por tua voz conduzida.
..................................................



Soneto - XL



ERA VERDE o silêncio, molhada era a luz,

tremia o mês de junho como uma borboleta

e no astral domínio, desde o mar e as pedras,

Matlde atravessaste o meio-dia.



Ias carregada de flores ferruginosas,

algas que o vento sul atormenta e esquece,

ainda brancas, fendidas pelo sal devorante,

tuas mãos levantavam as espigas de areia.



Amo teus dons puros, tua pele de pedra intacta,

tuas unhas oferecidas no sol de teus dedos,

tua boca derramada por toda a alegria,



mas, para minha casa vizinha do abismo,

dá-me o atormentado sistema do silêncio,

o pavilhão do mar esquecido na areia.
 
Autor
Pablo Neruda
 
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