Valentes valetes com o coração ao peito.
De lança na mão guardam aquilo que é feito.
Reis e rainhas de todas as cores e naipes fazem cortes.
Os duques de pau, ou nem por isso, seguem rasteiros mas úteis.
Os ases na sua ambiguidade tudo podem mas de nada valem.
Um Homem acorda e poisando a carta na mesa desiste do jogo.
Olhares de esguelha e distância são o prémio e alguém cobiça o lugar vago.
Como se de ramela se tratasse a unhaca sábia limpa o olho e aclara a visão.
Mais sózinho que nunca, tira os olhos da ramela e vê de fora o Jogo que era a sua vida. Sem nada temer recebe a dádiva que sempre havia sido sua e começa a fazer as suas próprias regras.
Sem divisas, naipe ou côr escolhe apenas Ser pagando alegremente o preço de cada acto seu. Auto-vocacionado para contemplar absorve a loucura grandiosa que o rodeia e sentindo-se parte de tudo o que É resolve Ser a cada passo seu.
Sem deixar espaço para o seu pequeno sentir descobre as ligações entre todas as coisas e quase anseia por as gritar a um mundo de surdos.
Sentido-se uma injustiçada aranha vegetariana, sempre provocando gritos histéricos ou violência instintiva, começa a fazer a sua teia, consciente da fragilidade da mesma e do essencial da iniciativa.
Começando a trepar por aquele castelo de cartas , todas diferentes todas iguais, a sua preciosa baba a todos liga. O espanto, o temor, o asco e o terror espalham-se no rosto daquelas figuras de papel.
Máscaras começam a cair do alto e Homens choram de dor.
A aranha continua a sua marcha de Amor e as cartas começam agora a deixar de o ser.
As regras são facilmente esquecidas devido ao choque e a hipótese para um jogo novo surge. As regras mudam e os Homens que eram cartas começam a atacar a aranha, defendendo o seu território e o próximo a todo o custo.
A aranha que era Homem sentiu a reacção e prosseguiu pacificamente o seu objectivo com dobrado vigor.
Os Homens começavam agora a organizar-se e todo o seu potencial começava a florir.
Em breve a aranha jazia morta sobre os destroços do que outrora havia sido um imenso castelo de cartas.
Dizem aqueles que a mataram que havia morrido com um sorriso de aranha
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.