RAZÃO DE SER
Da folhinha incógnita do jardim
Que caprichoso arbusto esconde
Á insinuante rosa carmesim
Que emerge da folhagem junto à fonte
Do riacho alegre saltitante
Nascido das entranhas lá da serra
Ao sereno rio que coleante
Abraça os montes da minha terra
Da avezinha nervosa e inconstante
Que baloiça na haste da giesta
Ao tigre opulento que, hiante
Revolve a indómita floresta
Da manhã de Sol resplendente
Inspiradora de galante rouxinol
À tarde invernosa e inclemente
- Dos elementos em fúria, quais forças do mal
Da noite de tormenta impiedosa
Das leis da natureza ditadora
À noite de luar, esplendorosa,
E de romântico paraíso promissora
Do inseguro olhar duma criança
Tacteando os primórdios duma vida
Ao velhinho trémulo que alcança
O limiar da hora da Despedida
-Num fulgurante rosto de mulher
-Nuns lábios que ardem de desejo
-No desabrochar do botão em flor
-Nuns olhos que devoram de querer
-Num Deus que se adora sem se ver
-Aí a razão deste meu Ser
Por que aí a Vida – aí eu sei o amor
Antónius
(Março de 1983)