Fechas os olhos. As tuas mãos na parede do quarto como a tapar os olhos do mundo. A aranha olha os olhos penetrantes do gato, tu preguiçosamente ergues o livro, escolhes um poema e lês num mastigar de batatas fritas com óleo. Estás a fazer as malas, arrumas tudo, até a água do mar se coubesse. Vamos os dois numa viagem de sonho, espero que não seja uma viagem de sonho e o preço de pesadelo. Estás muito bonita, tens o fecho do vestido desabotoado, gosto do movimento de desabotoar, é o movimento de fazer voar os dedos nas tuas costas, elas são estreitas como montanhas.
- Encontrei uma foto!
- Uma foto?!
- Da minha caixa de chocolates.
Era uma marca de chocolates do tempo da busca do ouro na América, se no mar a profundeza fosse chocolate, quem sabe se isso não seria o petróleo da fantasia.
Arrumas tudo a uma velocidade que parece estarmos numa cena de um filme mudo. Está a chover, daqui a duas horas parte o nosso avião, dás os últimos retoques nos olhos, pões os braços á volta da minha cintura e exclamas que o amor é uma ilha.
Estamos na gare de embarque, na minha cabeça surge uma canção nostálgica, o aeroporto não é um cabaret mas eu imagino que as canções tristes fazem voar a alma.
- Achas que a alma dos Franceses é triste pergunta ela?
- As almas são todas iguais – não são todas iguais, há quem não tenha alma, ou tenha uma alma desfeita pela chuva. Tu aproximas os teus lábios, tocam-se e parece que podia ter sido assim o despontar da natureza. Entramos no avião, se aquele momento não fosse a conquista do mundo... tu olhas os meus olhos, parece que vês um filme, olhas-me fixamente, pergunto-te o que vês?! As montanhas respondes tu passando os dedos por cima deles.
- Por cima da montanha dos teus olhos uma alma solitária.