Dia a dia, pouco a pouco,
Desenhei durante anos
A moldura como presente
E a tela como futuro.
Vi um mundo perfeito
De ideais concretizados
E assim o desenhei
Com tinta extraída dos sonhos.
Mas quando acabei a obra
Não aceitaram o meu traço.
Disseram ser irreal
E as cores desbotaram.
Explicai-me qual o propósito
De existir e persistir no usual,
De ser apenas um depósito
De lixo emocional.
Não faz sentido obrigar-me
A aceitar o que não entendo
Sem reflectir ou questionar-me
Sem sentido crítico consciente.
Não me obriguem por favor,
A parecer o que não sou.
Prefiro morrer de pavor
E ter coragem de tentar,
Do que morrer vazia,
Sem viver e enfrentar.
Carla Veiga Ribeiro