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Fim de um ciclo...

 
 
Fim de um ciclo...
 
A poeira assentou lentamente no chão da alma já liberta das violentas tempestades que a atormentaram por três longos meses…

Mais um ciclo de dor e luta se fechava no tempo de sorrir de novo…

Fora forte o balanço da corda em que tentou desesperadamente equilibrar ser e vida, tão forte que caiu, por fim, naquele abismo escuro e infindável, desfeita de si nos pedaços do que restava de um sonho transformado em pesadelo por uma vontade não sua…

A muito custo se reerguera, escalando as etapas cinzentas de uma encosta estéril de esperança, deixando para trás as arestas de mágoa que insistiam em cortar-lhe os dedos da determinação com que tentava reunir os fiapos da fé que sempre guardara e que, em nome do amor, lhe haviam arrasado sem compaixão nem pudor…

Amor, essa palavra tão levianamente pronunciada por aqueles que não conhecem um sentimento puro, profundo, infinito e o invocam facilmente no egoísmo em que sufocam a vida de outros seres e lhes condicionam felicidade ao acenar de sonhos e promessas de cumprimento adiado entre desculpas para disfarçar a imensa cobardia com que desistem de si mesmos e se iludem de grandeza…

Diz o povo que ‘quem tudo quer, tudo perde’… é sábia a voz deste povo.

Quem tudo quer e tenta obter no subterfúgio de uma vida madrasta negando as suas próprias limitações e incapacidades, tudo perderá, fatalmente… a começar pela dignidade de ser humano…

Todo aquele que se acomoda ao engano de si mesmo e atribui ao mundo culpas que são somente suas, acabará por tudo perder… Tarde demais descobrirá que também ele se perdeu por sua única vontade… e queira ou não, carregará em si a máxima culpa de ter destruído, irremediavelmente, a sua própria felicidade…

Ela, porém, não aceitava desculpas e subterfúgios, jamais os utilizava, plena na consciência de que sempre assumira integralmente tudo aquilo que pensava, dizia e fazia, nunca culpara outrem por erros e fracassos só seus… Não guardava esqueletos nos armários da sua consciência nem fantasmas nas gavetas do seu sentir…

Terminada a subida, periclitara longo momento na beira daquele abismo que parecia querer atrair os restos de esperança que conseguira encontrar num recanto da alma magoada… susteve a respiração com o peito do coração a palpitar de ansiedade… resistiria, não se deixaria cair de novo… não se perderia de si mesma nem que o céu desabasse sobre a sua alma e o maior dos temporais lhe arremessasse dor em chuvas diluvianas sem arca que lhe salvasse o sentir…

Aproximava-se, por fim, o instante em que mais um ciclo se fechava e o fim de tudo ou o princípio de tudo definiriam no horizonte os contornos de um caminho ainda escuro e atribulado… e fosse qual fosse caminho a seguir, prosseguiria em passo firme, serena na certeza de que a felicidade voltaria a encontrar o sorriso que se ausentara do seu olhar…






(Imagens próprias com efeitos de edição by Zita)
 
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LuaBandida
 
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