O litoral entra pela rádio, estamos no limite entre a margem e o mar, a margem onde acordamos e o mar onde permanecemos adormecidos. A rapariga do vestido branco lançou-se do penhasco, foi um anjo jovem que a iniciou naquela fatalidade do amor. O litoral entra pela rádio, o corpo inerte do velho pescador cheira ao peixe podre, e agora de novo a rádio nos entra no quarto como um naufrágio, depois da desilusão subiremos para apertar os braços que desfalecem. É tão azul o nosso amor, os nossos olhos, o céu, o pensamento que nos faz flutuar. O nosso quarto está para além da rádio, para além do mundo.
Tu respiras e depois do corpo só há intimidade
Lobo 07