|
Re: Quando o vento...
Minha querida amiga Maria,
Não sei como começar, escrever é uma Arte, eu como já te disse considero-me apenas um estilista de letras, ou um simples alfaiate. Pego nas emoções escrevo-as, e depois a giz, alfinetes ,e mangas de alpaca, faço retoques, dando-lhes a forma que as minhas entranhas atiram para um papel, tantas vezes amarrotado e sujo, do suor de quem apenas com esforço dá sentido e forma às letras. Não seria verdadeiro e sincero se lhe dissesse que o poema que me dedicou não me deixou radiante e feliz, não tenho falsas modéstias no que concerne às mensagens de amizade e à conquista de novas amizades, elas são sempre o resultado da nossa maneira de estar na vida ou melhor, a forma como somos capazes de a viver. Mas com essa mensagem de simpatia, obrigou-me a recuar até ao dia que pela primeira vez fiz um comentário a um seu escrito. E lembro-me na perfeição, que o que sobressaía das palavras, era a genuidade, não eram decalques do que tinha lido no dia anterior, antes, e como lhe disse, “eram palavras não pensadas, mas sentidas”. Assim minha amiga, tocou-me no que de mais importante eu reservo em mim como “parque protegido” : A VERDADE. É nela que alicerço a minha vida, admitindo sempre que a idade torna muitas vezes a verdade em mentira, e transforma inimigos em amigos, estamos perante uma das maiores afirmações da vida no Homem; A Inteligência e a capacidade e humildade de assumir o erro. Admito que haja poetas que não gostem deste estilo, eu gosto, e não o irei mudar, se é algo que a família transporta de herança, são também memórias eternas. Melhor, ensinamentos eternos, por exemplo de quem leu Júlio Dinis aos doze anos, e acabava sempre os seus livros a chorar, fantasiando depois que também seria capaz de me tornar naquelas personagens honradas e com fins sempre felizes. Assim passei a segui-la com a vontade de a compreender, e deliciei-me com aqueles textos de encontros imediatos com personagens importantíssimas, onde a sua personalidade tinha sempre uma ironia mordaz. Acabou ainda por me baralhar mais, como mudava de estilo com a mesma alma de verdade nas palavras dirigidas ao amor ou à culpa da falta dele, e até pelos movimentos irrequietos entre a ficção e a realidade, mas mais importante eram a suas respostas sempre de mulher segura e altiva, carregada de um humor subtil, onde os poetas tem dificuldade em navegar. A dúvida persistia sempre que escreve, eu abro os seus textos sem saber quem está do outro lado. Aquelas mensagens de amor eram ainda contagiantes ou já tinham sido? Era uma luta sempre interessante: ler e perceber quem escreve, a poesia e as palavras são terríveis enganadoras.Mas eu passei a gostar daquela personalidade que criei da tua escrita; determinada, verdadeira e suficiente forte para dizer que “os homens só servem para apanhar bolas”. Certo dia escrevi o seguinte comentário: “Assim, espero ter conseguido não iludir-te, porque sou teu amigo, e gosto do que escreves, mas espero também que não tenhas tido nenhuma desilusão com o meu comentário… Por aqui escreve-se assim, sem ilusão de algum dia escrever diferente.” Senti a tua revolta e juntei a minha, percebi que algumas vezes os “POETAS” tem que gritar, eu acho que tens que gritar, para que esta sala seja mais justa contigo, e te dispense o mesmo carinho que tantas vezes é dispensado em abundância, para tantas outras e outros. Minha amiga o que disseste hoje tem todo o sentido: “Em vez de Maria devia-me chamar “a Simplória...” Mas nunca provinciana, tenho horror a essa palavra.” Nunca precisarás de o fazer, Maria é um nome bonito, mesmo que seja apenas para quem gosta de ti e te aprecia, não precisas de saltos altos, e mais tarde ou mais cedo os indecifráveis serão apagados, e resistirão ao tempo apenas os que possam ser tangíveis. Sendo assim minha amiga, concordo que “as bocas possam mentir e os corpos, esses não mentem nunca, são realmente eles que amam”. Esta frase é verdadeiramente genuína, mas eu ainda era capaz de acrescentar as palavras BELAS que em vez de serem ouvidas podiam ser lidas nos olhos. Maria, nessa altura poderemos todos ser felizes em qualquer parte desta sala, ou até em qualquer parte do globo, falando uma qualquer língua, e mesmo que o vento fustigue esses corpos, seremos capazes de calar todos os pássaros barulhentos, deixaremos apenas aqueles que nos encantam todos os dias com verdadeiras melodias de palavras. (temos tanta gente boa aqui, sinto-me um felizardo, fui adoptado por “fadas” que diariamente se preocupam em dizer-nos um olá). Nos dias que a tua alma não existir, deixa um carreiro de grãos de milho no chão, de maneira que te possa guiar até à minha porta, eu ajudar-te-ei a encontrá-la e restituiremos todos os teus desejos e ambições que tenhas perdido no momento, tornando-te novamente DEUSA, vestida de genuidade e de palavras não pensadas, permitindo apenas que eu te possa dizer: -Hoje gosto dessa MARIA…! Dito assim, e mesmo só assim. Por aqui escreve-se assim, sem ilusão de algum dia escrever diferente. Minha amiga, foi uma honra receber esse poema, mesmo que seja só nosso, e mais ninguém o leia. José Luís Lopes
|