Prosas Poéticas : 

Overdose

 
Ando enferma.
As minhas veias estremecem a cada inspiração.
Nas expirações são os ossos do pescoço que se contraem.
Suo.
Canso as artérias até ao limite.
A agulha diz-se sensata. Recuso-a.
Insiste na prudência.
Recuso.
E expiro outra vez.
Oiço o estilhaçar do pescoço.
Inspiro novamente.
As veias das mãos saltam a cada respiração.
Aperto os joelhos.
Deslizo os dedos do pé contra o banco.
Gotas de suor no soalho.
E recuso outra vez.
A porta está fechada.
Leve ruído. Passos apressados.
Novamente a sensatez.
Breve suspiro. Fundo desejo.
Insensatez.
Não recusei.
Espetei!


 
Autor
Filipa Ferreira
 
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 31/05/2007 10:06  Atualizado: 31/05/2007 10:06
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: Overdose
Muito forte mesmo!
Chagam a arrepiar as tuas palavras. Uma boa chamada de atenção.

Beijinhos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/05/2007 13:03  Atualizado: 31/05/2007 13:03
 Re: Overdose
Forte, sombrio e muito bem escrito.