Quando faltavam caixotes havia numa velha cidade um repositor também ele velho, também ele uma cidade. Olhares costumavam percorrer as inúmeras estradas que nunca acabavam, era o tempo aí bem passado quando o ouvíamos contar histórias de outros tempos ainda tão frescos na sua memória, uma viagem ao desconhecido para nós.
"Vocês não sabem, mas eu vim do céu num caixote" contava o velhote e ria ele muito quando reparava nas nossas expressões de espanto. Costumávamos fazer apostas sobre a sua idade, sobre de que planeta teria vindo, sobre que pensava ele quando olhava o céu de olhos fechados, talvez assim conseguisse ver a sua casa.
"A nossa casa somos nós, se o quisermos" as crianças imaginavam um homem quadrado, dos olhos nasciam janelas, da boca a porta "sempre aberta?", "como entrará alguém se a porta estiver fechada?", "eu entro pela janela!", e que bela tarde aquela, nasceram homens sem casa para serem livres, para serem homens.
a minha mente foge sempre
mas quero fugir a ela antecipadamente..