Poemas -> Reflexão : 

APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES

 
Tags:  INSÔNIA E REFLEXÃO  
 




O teto, acima de mim,
Jaz sólido:
Ainda sim,
Transidamente,
Eu o olho.


Escalavrado pela impotência,
Pelo vácuo, pelo tédio
De afluirmos,
Deliberadamente,
Ao estuário da vida,
Deixo-me domar
Pelo sobrepujante cavalgar
Do heliocentrismo da elegia.


Pesarosas lágrimas silentes
E invisíveis rolam-me
Por sobre a epiderme:


Crianças ao bel-prazer
Do ódio como agasalho
Da devoluta alma,
Devoluta pele e osso,
Devoluta mente,
Devoluto corpo
Sorvem a seiva da ira
Contra o Éden misericordioso.



A eloquente voz de um homem
Esculpe, esmerila e grita
A oração: --- Sim, nós podemos, irmãos!


No entanto,
Será que esta sentença
Ganhará eco de materialização
No reino, hein, das vis-metais mentes e preconceituosos corações?



Não,
Tal convicção não acalenta
Meu escaldado ente-razão,
Mesmo quando agora
O contemplo segurando,
Firmemente, o poderoso cetro
Que norteia o rebanho
Das extáticas cabeças
Que, pelo obliquo caminho, vão.


Na verdade,
O que, cotidianamente,
Vejo é a construção
--- cada vez mais célere ---
De megalópoles quatro palmos
Abaixo do chão.


Na verdade,
O que, cotidianamente,
Vejo são vales de incauto sangue derramado
Regozijarem os galhardos iconoclastas
Da sábia vida prolífica:
O escárnio á longevidade da sua celebração, sua mádida magia!






Testemunho
Querelas que libam,
Avidamente,
O vinho da ganância por poder
Abrir sulcos e crateras
Na mansão do nosso altruísmo.


Testemunho
O gradiente do egoísmo e da maldade
Açambarcar-se, avolumar-se,
Caminhar de mãos dadas com a ubiquidade,
Tornar-se loquacidade, astuto
E voraz canibalismo onipotente:
O arrebate do arrebol da crueldade iminente e a corrosão selvagem,
Chama alimentando a sequidão leviana, alarve
Qual ansiosamente se encontra
Ás portas do sol que liberta
A aura da universal supernova hecatômbica, fúnebre, funesta!


Enfim,
O teto, acima de mim,
Jaz sólido:
Contudo o liquefaço
Com o lume dos pensamentos
Que emana da íris dos meus olhos opacos.


Sim,
Contemplo, como se estivesse
Confinado numa câmara
Hermeticamente fechada,
A insensibilidade degustar-nos
Incomensuravelmente deleitada.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

http://palavrasdeumpoetamenor.blogspot.com/




SOU NATURAL DA CIDADE DO SALVADOR, BAHIA. NASCI EM JUNHO DE 1982.
NA VERDADE, SOU UM MENTECAPTO QUE TROPEGA PELAS
ALAMEDAS DA POESIA.
http://twitter.com/jessebarbosa27
http://www.myspace.com/nirvanapoetico
http://poetadorjesse.zip.net/
http://si...

 
Autor
jessébarbosadeolivei
 
Texto
Data
Leituras
745
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
3
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 28/05/2009 11:47  Atualizado: 28/05/2009 11:47
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11099
 Re: APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES
Jésse,
A insensibilidade um mal maior que assola a humanidade e é geradora de tanta violência e tanto preconceito.
Um beijo
Nanda

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/05/2009 13:31  Atualizado: 28/05/2009 13:31
 Re: APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES
Depois de ler teu texto tornei-me professor.
Já que sob a ótica de seu sensível divagar
retrata-nos a insensibilidade mundana.
Um poema pra refletir, reler e aprender
a ver contigo.
Parabéns Jessé!

REGE

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/05/2009 15:30  Atualizado: 28/05/2009 15:30
 Re: APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES
Poesia pura e dura, erudita, daquela que dava para conversarmos dias a fio, tantos são os contornos que exibe e a janelas que abre. Aplaudo,
Abraço