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momentos simples

 
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Entrou no espaço. Pareceu-lhe agradável.

Como sempre, pediu o “cimbalino” ao balcão. Sim, sempre pedia um “cimbalino”. Gostava de sentir o olhar do empregado. Sorridente se vindo do Norte, desconfiado se alfacinha, nem sim nem sopas se o local era sem sim nem sopas…

Aqui, o empregado sorriu, como a dizer… ficava bem no albergue espanhol da mesa grande, só pode!

Não era. Pelo menos por enquanto.

Mexeu o café, olhando o creme a colar-se nas paredes da chávena. Gole e gole, lá foi ouvindo os sons que lhe chegavam.

- Hum! Gostei daquele golo. É só para os “andrades” não andarem por aí de crista levantada. Pelo menos até sábado não os aturamos.

- Olha, dizem que o Manel vai para Angola… é só bicho, só agasalhar. É dinheiro que nem esterco.

- Sabes quem não vejo, há bué de tempo? A das calças de licra, sim a…

- Sabe bem este café ao fim de semana. Já basta de correria de segunda a sexta.

- Já leste o último do Alain Robbe-Grillet? É, morreu na segunda, oitenta e quantos? Não gostas? Ah! Desse também gosto, mas são diferentes.

- Imagina que os meus vizinhos armaram cá uma baita duma confusão no prédio. Sabes, vieram lá de nem sei donde, não têm modos, aos gritos da varanda a insultar a Aurélia da frente… uma sebenta, tá visto.

- Olá, muito tempo desde. Que é feito?

- Está um dia de primavera. A Vera, sim, a Prima, não se esquece de nós.

- O meu mais novo, não sei, anda um pouco triste, estou a ficar preocupada. Tenho de falar com o psicólogo da escola.

- E o meu mais velho? Passou às semestrais todas. Aquele não engana.

- Quem enganou foi o da Maria, coitada. Anda por Algés aos caídos.

- Ah! E o da Graça?! Fugiu para o Porto, é arrumador ao pé do Notícias. Dizem que dorme por baixo de uma montra de uma loja abandonada, ali para Santa Catarina. Sim, ao pé do Majestic.

- Então, e o Ministro? Aquela da encomenda dos estudos técnicos… o marido respondeu por uma empresa, a mulher por outra… fica tudo em família!

- Pois, o Sócrates… aquela resposta aos professores não lembra nem ao diabo.

Que raio de conversas! Pediu uma água com gás e bebeu-a devagar. Puxou o jornal da casa, viu as últimas da bola, passou por alto os olhos num artigo de opinião (opinion makers não faltam…), ia puxar de um cigarro…

É, aqui também não se fuma. Como pode saber bem o cimbalino?!

 
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asv
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