De repente estalas os dedos e aparece um gato, não parece ter sido assim que apareceu o mundo, mas acredito que cada um tenha uma fórmula pessoal e credível para fazer surgir do nada ou do que se julgue mais insignificante um mistério ou algo tão prodigioso como um dia de chuva num domingo incolor. Que faria um gato num dia de chuva saído dos teus dedos trémulos andando aos ziguezagues na folha amarrotada? Sabes que essas criaturas andam nos telhados, cada um tem o corpo que o destino lhe deu ou a habilidade que mais se ajuste ao circo da vida. Há quanto tempo andas instavel, sabes o motivo que faz os gatos e os ratos e as serpentes sacudirem as pedras e tentarem aparecer no sonho dos homens? Não sabes... é estupido o que vais dizer, não acreditares no amor porque o vento levou todas as pétalas da tua flor, um caminho de espinhos parece um limite incontornavél mas se olhares o teu sorriso quanta porção de coisas importantes escondes, quanta mentira impões á tua natureza. Não creio que seja a serpente que mata, és tu que o fazes porque não sabes habitar o seu mundo, não tomas cuidado até onde podes ir e a todo o lado podes ir com precaução. A tua fantazia, toda ela dentro de uma chavena de chá, não julguem que o trabalho dos pintores, artistas e contadores de histórias, não é uma coisa séria e respeitavel, são estas coisas que fazem com que o homem não imite o leão que devora o veado. Não está comprovado se o leão come o veado por ter fome ou por não o suportar. A filosofia não é um pacote de bolachas, enquanto rezavas apareceu o gato a espreitar sorrateiramente da cortina, os gatos das folhas de papel sabem rezar, e tu abres a boca como se o mundo tivesse sido criado com espanto, que surpresas nos reservam o mundo animal, imaginas as nações unidas dos ruminantes, dos roedores, dos abutres, não sei se o mundo assim fica mais lógico mas também assim como está precisa de concerto. Mostra-me as tuas mãos, olho-as como se me olhasse a um espelho e me quizesse certificar da minha aparencia, para cada situação uma respiração, uma roupa, somos todos loucos, todos fingimos um papel, precisamos de uma certa quantidade de ego para que não seja demasiado caotica a nossa existência. Vou afirmar mais uma vez que gosto dos teus gatos, parecem-se muito aos gatos de um certo pintor catalão, gatos infantis que andam á chuva e se são pretos parece que os vamos encontrar na guerra ou no funeral da nossa avó. Tu deixas-te cair para trás, lembro-me desse exercicio teatral, tu tocavas-me o rosto, escrevias-me no rosto muito suavemente e na sala a musica do filme e a mulher de todos os homens e os homens conservadores a tentar boa impressão com a entoação banal do amor livre. Apanho-te a conversar com um gato, os dois sentados numa cadeira de palha, gostas de xadrez e de um charuto depois do jantar, estas comodidades muito bem imaginadas graças ao esforço que a pobreza provoca na nossa capacidade empreendedora. Aquele pintor que como tu, pinta estrelas e gatos e que põe bailarinas e poetas afogados no azul e no amarelo ele que vagueia ainda nas ruas, que se transforma em sete vidas, em tantas cores, muitas perguntas, tantas que vai ser difícil voar... não chores, repara no gato que está ao teu colo, podes fingir que tens a existência sentada ao teu colo, ajoelha-te e pede-lhe perdão pelos teus pecados, não permitas que a dor te tape os olhos, o sofrimento não é uma diversão, não estás na lista de espera para trabalhares como um santo no céu. Não estás no céu, nem estás numa pastelaria a mexer a massa dos bolos, nem julgueis que se deixares de ser a harmonia que há no céu e na terra, no cão e no gato, no barro que faz o criador e que lhe coze a palavra, porque a alma dos homens é um forno a lenha e sabe muito bem comer o pão no forno da alma dos homens e sabe ainda melhor rezar os salmos e ouvir os sinos na torre e tu pões as tuas mãos á volta do meu pescoço. A minha vida também precisa de concerto, a minha vida parece um armário desaparafuzado. Que achas que posso fazer? Dona Maria Das dores uma espírita encarnando a escumalha dos subúrbios, pessoa versátil em ciências e bolsos ocultos, não tem sorte com a minha desgraça, tenho o azar de ser muito pobre e a sorte de não ser, nem assim tão rico, nem assim tão estúpido. Há pessoas muito dentro das coisas, muito elevadas no saber, na consciência e na pureza da alma. Aquele que desenhar como uma criança mesmo que tenha um passado criminoso ou que ainda sejao mais feio homem das cavernas se desenhar como as crianças será curado de todas as doenças e de todas as alergias, isto também vem escrito no salmo dos gatos, na parabola do senhor aos roedores do templo. Aquele que tiver um queijo e não o dividir mesmo que o tal seja muito pequeno e a fome muito grande não será digno de uma casa limpa, viverá entre os vermes e será lançado no lixo do mundo para todo o sempre. Os roedores do templo não escutaram estas ensinanças, tinham as orelhas tapadas com bocados de queijo. Tu estás sentada perto do fogo, olhas muito fixamente para mim, queres perguntar-me algo com os olhos, depois perguntas se tenho medo de ti? És esquizofrenica paranóica, o teu marido é um pouco violento quando bebe, tu pedes-me um cigarro, digo-te que não fumo e tu mais uma vez revelas que só sabes fazer gatos e anjos e também gostas de fazer pessoas. Houve momentos que fazias os teus poemas mas a tua mão treme e tu que não sabes guiar as palavras ficas a olhar em volta como se as palavras andassem de mesa em mesa como se esse modo que tens de me olhar os olhos fosse uma história, um acontecimento, uma noticia da vida que é dos outros mas nós gostaríamos que fosse nossa porque pensamos sempre que a nossa vida é a mais vazia. Não sabemos de que coisas falam os pássaros, se eles tivessem a vida tão vazia como nós julgamos ter a nossa, nós e eles seriamos feitos da mesma conversa e da mesma rotina, nós e eles no linho dos mesmos lençóis nos deitaríamos. Certo que somos pobres, mas é mais a pobreza de o pensarmos, não nos faz bem a resignação, tu de cabeça cabisbaixa acendes uma vela, há a sombra do gato a trepar a parede, tu mostras-me os teus desenhos, num certo sentido são muito adultos, não sei explicar muito bem, pareces uma criança a tentar ser a vida demasiado responsável e no entanto eu imagino o gato dos teus desenhos ou o gato dos telhados ocupados nos seus negócios. Tu estás nua dentro da tua casa e do teu quarto, o espaço que habitas é uma roupa, vejo-te da minha janela, com os meus olhos acrescento outras linhas ás arestas que o contornam. De repente estalas os dedos e aparece um gato, não parece ter sido assim que apareceu o mundo, mas acredito que cada um tenha uma fórmula pessoal e credível para fazer surgir do nada ou do que se julgue mais insignificante um mistério ou algo tão prodigioso como um dia de chuva num domingo incolor. Que faria um gato num dia de chuva saído dos teus dedos trémulos andando aos ziguezagues na folha amarrotada? Sabes que essas criaturas andam nos telhados, cada um tem o corpo que o destino lhe deu ou a habilidade que mais se ajuste ao circo da vida. Há quanto tempo andas instável, sabes o motivo que faz os gatos e os ratos e as serpentes sacudirem as pedras e tentarem aparecer no sonho dos homens? Não sabes... é estúpido o que vais dizer, não acreditares no amor porque o vento levou todas as pétalas da tua flor, um caminho de espinhos parece um limite incontornável mas se olhares o teu sorriso quanta porção de coisas importantes escondes, quanta mentira impões á tua natureza. Não creio que seja a serpente que mata, és tu que o fazes porque não sabes habitar o seu mundo, não tomas cuidado até onde podes ir e a todo o lado podes ir com precaução. A tua fantasia, toda ela dentro de uma chávena de chá, não julguem que o trabalho dos pintores, artistas e contadores de histórias, não é uma coisa séria e respeitável, são estas coisas que fazem com que o homem não imite o leão que devora o veado. Não está comprovado se o leão come o veado por ter fome ou por não o suportar. A filosofia não é um pacote de bolachas, enquanto rezavas apareceu o gato a espreitar sorrateiramente da cortina, os gatos das folhas de papel sabem rezar, e tu abres a boca como se o mundo tivesse sido criado com espanto, que surpresas nos reservam o mundo animal, imaginas as nações unidas dos ruminantes, dos roedores, dos abutres, não sei se o mundo assim fica mais lógico mas também assim como está precisa de concerto. Mostra-me as tuas mãos, olho-as como se me olhasse a um espelho e me quisesse certificar da minha aparência, para cada situação uma respiração, uma roupa, somos todos loucos, todos fingimos um papel, precisamos de uma certa quantidade de ego para que não seja demasiado caótica a nossa existência. Vou afirmar mais uma vez que gosto dos teus gatos, parecem-se muito aos gatos de um certo pintor catalão, gatos infantis que andam á chuva e se são pretos parece que os vamos encontrar na guerra ou no funeral da nossa avó. Tu deixas-te cair para trás, lembro-me desse exercicio teatral, tu tocavas-me o rosto, escrevias-me no rosto muito suavemente e na sala a musica do filme e a mulher de todos os homens e os homens conservadores a tentar boa impressão com a entoação banal do amor livre. Apanho-te a conversar com um gato, os dois sentados numa cadeira de palha, gostas de xadrez e de um charuto depois do jantar, estas comodidades muito bem imaginadas graças ao esforço que a pobreza provoca na nossa capacidade empreendedora. Aquele pintor que como tu, pinta estrelas e gatos e que põe bailarinas e poetas afogados no azul e no amarelo ele que vagueia ainda nas ruas, que se transforma em sete vidas, em tantas cores, muitas perguntas, tantas que vai ser difícil voar... não chores, repara no gato que está ao teu colo, podes fingir que tens a existência sentada ao teu colo, ajoelha-te e pede-lhe perdão pelos teus pecados, não permitas que a dor te tape os olhos, o sofrimento não é uma diversão, não estás na lista de espera para trabalhares como um santo no céu. Não estás no céu, nem estás numa pastelaria a mexer a massa dos bolos, nem julgueis que se deixares de ser a harmonia que há no céu e na terra, no cão e no gato, no barro que faz o criador e que lhe coze a palavra, porque a alma dos homens é um forno a lenha e sabe muito bem comer o pão no forno da alma dos homens e sabe ainda melhor rezar os salmos e ouvir os sinos na torre e tu pões as tuas mãos á volta do meu pescoço. A minha vida também precisa de concerto, a minha vida parece um armário desaparafusado. Que achas que posso fazer? Dona Maria Das dores uma espírita encarnando a escumalha dos subúrbios, pessoa versátil em ciências e bolsos ocultos, não tem sorte com a minha desgraça, tenho o azar de ser muito pobre e a sorte de não ser, nem assim tão rico, nem assim tão estúpido. Há pessoas muito dentro das coisas, muito elevadas no saber, na consciência e na pureza da alma. Aquele que desenhar como uma criança mesmo que tenha um passado criminoso ou que ainda sejam mais feio homem das cavernas se desenhar como as crianças será curado de todas as doenças e de todas as alergias, isto também vem escrito no salmo dos gatos, na parábola do senhor aos roedores do templo. Aquele que tiver um queijo e não o dividir mesmo que o tal seja muito pequeno e a fome muito grande não será digno de uma casa limpa, viverá entre os vermes e será lançado no lixo do mundo para todo o sempre. Os roedores do templo não escutaram estas ensinanças, tinham as orelhas tapadas com bocados de queijo. Tu estás sentada perto do fogo, olhas muito fixamente para mim, queres perguntar-me algo com os olhos, depois perguntas se tenho medo de ti? És esquizofrenica paranóica, o teu marido é um pouco violento quando bebe, tu pedes-me um cigarro, digo-te que não fumo e tu mais uma vez revelas que só sabes fazer gatos e anjos e também gostas de fazer pessoas. Houve momentos que fazias os teus poemas mas a tua mão treme e tu que não sabes guiar as palavras ficas a olhar em volta como se as palavras andassem de mesa em mesa como se esse modo que tens de me olhar os olhos fosse uma história, um acontecimento, uma noticia da vida que é dos outros mas nós gostaríamos que fosse nossa porque pensamos sempre que a nossa vida é a mais vazia. Não sabemos de que coisas falam os pássaros, se eles tivessem a vida tão vazia como nós julgamos ter a nossa, nós e eles seriamos feitos da mesma conversa e da mesma rotina, nós e eles no linho dos mesmos lençóis nos deitaríamos. Certo que somos pobres, mas é mais a pobreza de o pensarmos, não nos faz bem a resignação, tu de cabeça cabisbaixa acendes uma vela, há a sombra do gato a trepar a parede, tu mostras-me os teus desenhos, num certo sentido são muito adultos, não sei explicar muito bem, pareces uma criança a tentar ser a vida demasiado responsável e no entanto eu imagino o gato dos teus desenhos ou o gato dos telhados ocupados nos seus negócios. Tu estás nua dentro da tua casa e do teu quarto, o espaço que habitas é uma roupa, vejo-te da minha janela, com os meus olhos acrescento outras linhas ás arestas que o contornam. Outro dia houve uma inundação na rua onde moras, moras num bairro judeu, és a única negra que lá habita, a tua avó costuma dizer que os Judeus cheiram a dinheiro, a tua avó sabe das vidas dos que emigraram para o continente Americano, das coisas que houve faz uma história de encantar, as partes tristes ficam na emoção acentuada das palavras, nem sempre essas palavras são verdadeiras, mas a poesia também é subjectiva como os teus gatos na folha de papel,os gatos no discurso politico, nas conversas antigas de namoro á janela. Os teus pensamentos, a importância pessoal deles é que seguram os teus pés, não vais ficar em desconforto, precisas de uma estrutura na tua vida, de uma convicção que sustente a tua razão como os ossos que não deixam cair o teu corpo. Tu tens de afirmar a tua verdade pessoal, tens de vencer essa angustia, quando estás angustiada vestes um personagem sem papel, tu pareces um gato com muitas vidas, tu não consegues tomar conta desse barco. Que é o amor? Não sei se o barco levou o amor, não sei se abris-te as mãos e fizes-te de propósito para ele fugir. Gritas, os teus pulmões estão cheios, as guerras duram há tanto tempo e tu ainda não encontras-te a expressão adequada para a tua revolta. Ela pensa que é um anjo; Na verdade ser se anjo não é doença nenhuma. A doença do mundo é haver falta de de sonhos, de paixões fortes, de enganos tão absolutos como verdades sem discussão. Não quero discutir se és um anjo, não é por isso que vou deixar de guardar o melhor gosto, nunca se sabe quanto tempo fica, ter algum poder é melhor que não tentar nada. Ela declarou-me o seu amor impossível. Estava preocupada. Perguntei-lhe se tomava os medicamentos, reparei que estava com muito medo, tomou a minha mão, com a outra desenhou na folha do caderno um anjo.
o nosso amor vai ter de acabar! Estas foram as suas palavras, havia nelas uma entoação triste. ela perguntou-me o que pensava eu da maldade humana? Não tenho respostas para me vestir, fica a saber que eu não sou uma máquina, não serve de nada ficar na margem e não ter uma onda forte, também preciso de quem leia o meu grito. O amor tem a porta aberta ou o amor é a direcção que eu ainda não tenho. Quero muito aprender, não faz mal se tu renunciares, há muito tempo que preciso de renunciar a certos gostos que não me ficam na língua que isso me vai fazer sentir mais em união. Existem os paraísos do engano, os que proclamam a verdade absoluta ou o amor eterno, afirmar que não nos vamos perder, que tudo está garantido... e que espaço ainda fica para sermos livres, vai embora, ter-te conhecido foi uma armadilha, ameaçaram-me de morte e eu sei agora que a solidão é uma protecção, fica longe, não quero mais os teus gatos e os teus anjos, vou subir na árvore e ficar anónimo. Regressei ao meu estado solitário, as linhas que escrevo não são para ti. Olho as mães que levam as crianças á creche e que as esquecem. Cheira a pão e a pneus queimados. Penso na colorida praça de Palermo e nos juízes mortos pela máfia, há criminosos mortos sem distinção. Vai-te embora, não sou o Cristo das tuas visões... não vou deixar que me leves á praça publica, agora vou ficar tomando atenção ao céu. Oiço o galo cantar e em procissão passa o meu corpo e eu sigo o meu corpo e o vento que lhe sopra. A rapariga do cinema está no cortejo, tudo parece um filme, sou um ser anónimo e é uma sensação sem definição certa. Vou sentar-me no chão, por mim passa o homem cego e o cão, passa uma fila de ciclistas e as mulheres da vida perfiladas no passeio, não quero saber de nada, não há nada pior que um crime misturado com a chuva, voltar a nascer tem de ser uma coisa muito bem pensada, é melhor ficar por aqui, não pretendo ficar conhecido, a minha fotografia no jornal não gostaria de ver, sou um ser invisível, hei-de ter o meu lugar na rua e na mesa, hei-de ter o meu lugar nos sonhos e nas aspirações. Vou merecer um amor digno... Nos dias em que não apetece vou deixar-me ir. A poesia acontece assim, fria como um fio de navalha. É possível fugir, você quer resolver esse enigma, não causa espanto a sujidade dessas almas. Como são pobres os que habitam a aldeia do lugar comum. É verdade que uma pessoa nunca se prepara e por isso a morte chega sem avisar. Nós somos como as vacas levadas ao matadouro, no momento em que descobrimos o melhor pasto há-de haver uma faca a esquartejar-nos. Você insiste na mesma pergunta: Se acredito no amor, o amor é como o gato que pode cair do telhado. Olhe parece que inventei um proverbio, fique sabendo que as minhas duvidas são do tamanho de um monte de palha, você acende um fosforo e arde tudo
lobo 07