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Trinta faces diluídas

 
Trinta faces cravadas na multidão, viraram-se para cima e abriram a boca.
E a chuva pingava com vontade de lavar todas as gargantas.
Trinta faces, todas vivas, procuraram uma expressão de forma diferenciada. Trinta, todas diferentes das demais.
Pinga a pinga, chovia cada vez mais. Caía uma enxurrada de dilúvio.
Enchiam-se as bocas abertas que, agarradas às faces, olhavam para cima.
Quereria, a água que vinha, apagar as expressões? Talvez fosse esse o objectivo. Ou talvez fosse só lavar as gargantas de pressas feias. Ou talvez fosse só água que caía com força.
Trinta faces de olhos pouco abertos, pediam meças à agonia de tentar querer ser diferentes.
E a multidão era muito maior que trinta.
E as pingas da chuva, todas juntas eram muito mais que uma enxurrada.
A multidão molhada, num movimento de inveja, começou a cobrir a cara com as faces que trazia nos bolsos. Foram-se inclinando as cabeças. A olhar para cima, com olhos semi-cerrados, já eram quarenta, cinquenta, cem, muitos, uma multidão e todos com a boca aberta.
Os trinta, já não eram trinta e as expressões originais passaram a ser banais. Uma multidão de faces, com a boca aberta, olhavam, agora para cima... indiferenciadas. Nem voz nem nada, só as bocas cheias de água
E a chuva acalmou, acalmou e parou.
Cheirava a molhado e já não havia ninguém diferente. Fecharam a boca num bochecho, tiraram a face e já haviam desaparecido os trinta.

Por vezes não chove.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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