Iniciou a conquista avançando em passos pausados como uma rainha, anunciando com seus lábios carnudos e uma expressão incontestável no rosto a transcendência do que iria falar. Sua voz penetrou-me os ouvidos apagando todos os antigos e futuros calendários, experimentando a dimensão absoluta de viver e sentir. Tinha uma voz marítima, dominadora de todos os ruídos de todas as tempestades, que saia do vértice do seu decote alongado até o umbigo... no caminho dois seios entrevistos, conscientes de sua imponência assinaladas pelo tremor dos mamilos emocionados com a cupidez de sereia de sua própria voz implausível.
Pasmo com a capacidade inalterada de ainda me iludir com o apelo desta profunda e úmida caverna de onde as mulheres convocam os desejos, afastei a tentação de o reprimir com a desculpa que com a idade os êxtases não eram permitidos nem mesmo os imaginários.Espreitei os gestos da mulher como se houvesse a possibilidade de que um deles me fosse destinado, e deles respingasse a tristeza cúmplice dos amores fortuitos e inconclusos.Ela sustentou com ironia meu olhar caçador, depois nervosa com a perseguição ocular, desmoronou em seus lábios pálidos um sorriso suave...e me presenteou com sua alegria triste... desmoronando a guarida de sua angustia.
Carlos Said
Re: A conquista
Mais textos
Rss do autor
Estatísticas
Enviar
Imprimir
Criar um pdf
