Quem me dera ser imune
Ao frio dos continentes mais gélidos
Ao vento em fúria transformado em furacão
À doença castradora e à intempérie
Aos feridos em tormento e pedintes em aflição
Quem me dera ser imune
Ao sofrimento de um povo calado
E à dor que se esconde e se abafa
Em cada rosto desvairado
Quero ser imune
Aos teus toques de aventureiro de ensaios
Às tuas carícias desdenhosas de tíbio amante
À tua comodista e gélida indiferença
Ao teu silêncio sufocante
Quero ser imune
Ao teu frígido emudecimento
Onde lábios que se querem permanecem fechados
Quando em potência temos dentro o fruto da vida
Morre em nós a beleza da flor
A semente da amizade e da partilha
O enigma cintilante do amor
Quero ser imune
À vontade de me lançar em fúria
Num amplexo cálido recomeçando o ciclo
Para que a minha existência faça sentido
Ao latejar com que me visto sem critério
À força vibrante com que reflicto
Ao milagre de me dar em mistério
Estou imune!
Ao conseguir estrangular o clamor
De convocar em euforia o teu nome de mel
Transformado em lágrimas contidas
Num prato que se prova com sabor a fel!